«Sede Misericordiosos como o Pai»!

É o lema que o Papa Francisco nos propõe para o Ano Santo da Misericórdia, que tem início no próximo 8 de Dezembro de 2015.

 

1. A Alegria do Evangelho

 

Na Exortação Apostólica – A Alegria do Evangelho (AE) – o Papa Francisco recomenda «uma nova “saída” missionária da Igreja», no sentido de passar de «uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária» (AE 15), que leve a comunidade cristã a passar «duma Igreja clerical a uma Igreja toda ministerial» (AE 15):

 

Vão nesse sentido as Orientações Diocesanas de Pastoral para 2015/2016, que explicitam o compromisso da Diocese de se por em movimento, neste Ano Santo da Misericórdia, no sentido de promover um autêntico processo de «de uma nova saída missionária da Igreja» (AE.20), como recomenda o Papa Francisco.

 

2. Ano Santo, segundo a tradição bílblica (cf. Levítico 25)

 

O Ano Santo, segundo a tradição bíblica, correspondia ao Ano do Jubileu, em que os judeus consagravam ao Senhor o ano: não trabalhavam a terra; viviam dos frutos, que ela espontaneamente oferecia; os escravos eram libertos e toda a terra voltava à posse do seu dono original. Na Torá, o Jubileu era o 50º ano, em que terminava a semana da “semana de anos” dos anãos de Jubileu…

 

Na tradição católica, celebra-se o Jubileu cada 25 anos, ou em ocasiões especiais, por decisão do Santo Padre.

 

3. «Sede misericordiosos como o Pai»!

 

É o lema para o Ano Santo da Misericórdia, proposto pelo Papa Francisco.

Ora, para ser “misericordiosos como o Pai”, é preciso olhar para Cristo. Foi Ele próprio que o disse: «Filipe, quem Me vê, vê o Pai».

 

Efetivamente, Jesus revela o Deus-Amor, amor que tem a sua “máxima expressão na misericórdia”: “misericórdia” que significa ter a capacidade de “se com-padeder”, isto é, de “padecer-com”, de se pôr no lugar do outro, como Jesus, que Se fez um de nós, para que, com Ele e como Ele, tenhamos a vida com abundância.

 

4. «Sinais» do Jubileu Extraordinário da Misericórdia

 

A coincidir com o Cinquentenário do encerramento do Concílio Vaticano II (8 de Dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição), Santo Padre abrirá a «Porta Santa» da basílica de S. Pedro. E convida os Bispo do mundo inteiro a abrirem a «Porta Santa» nas próprias Dioceses, no Domingo seguinte (cf Papa Francisco, Misericordiae Vultus, Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, 11 de Abril de 2015 (BJEM).

 

«Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai… Quem o vê, vê o Pai (cf. Jo 14, 9). Com a Sua palavra, os Seus gestos e toda a Sua pessoa (cf. Dei Verbum 4), Jesus de Nazaré revela a misericórdia do Pai» (BJEM):

 

– “A «Porta Santa» é um símbolo muito expressivo. Se, por um lado, ela permite a entrada… também é a abertura por onde se sai para o mundo, ambiente onde o cristão tece habitualmente a sua existência e que deve fermentar com a verdade do Evangelho”… Na festa da Imaculada Conceição, terei a alegria de abrir a Porta Santa. Será então uma Porta da Misericórdia, onde qualquer pessoa que entre poderá experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá esperança. No Domingo seguinte, o 3º Domingo do Advento, abrir-se-á a Porta Santa na Catedral de Roma, a Basílica de S. João de Latrão. E em seguida será aberta a Porta Santa nas outras Basílicas Papais.

Estabeleço que no mesmo Domingo, em cada Igreja Particular – na Catedral, que á Igreja-Mãe para todos os fiéis, ou na Concatedral ou então numa Igreja de significado especial – se abra igualmente, durante todo o ano Santo, uma Porta da Misericórdia. Por opção do Ordinário, a mesma poderá ser aberta também nos Santuários” (BJEM).

 

– “A Peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência. A vida é uma peregrinação e o ser humano é viator, um peregrino que percorre uma estrada até à meta anelada. Também para chegar à Porta Santa, tanto em Roma, como em cada um dos outros lugares, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma peregrinação. Esta será sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício” (BJEM).

 

– “O Jubileu inclui também a referência à Indulgência. Esta, no Ano Santo da Misericórdia, adquire uma relevância particular. O perdão de Deus para os nossos pecados não conhece limites… Por isso, Deus está sempre disponível para o perdão, não se cansando de o oferecer de maneira sempre nova e inesperada… Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados, mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos permanece. A misericórdia de Deus, porém, é mais forte do que isso. Ela torna-se Indulgência do Pai “ (BJEM).

 

– “Voltam à mente aquelas palavras, cheias de significado, que S. João XXIII pronunciou na abertura do Concílio Vaticano II para indicar a senda a seguir: «nos nosso dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da Misericórdia do que o da severidade (…)». E, no mesmo horizonte, havia de colocar-se o Beato Paulo VI, que assim falou na conclusão do Concílio: «Desejamos notar que a religião do nosso Concílio foi, antes de mais, a caridade (…). Aquela antiga história do bom samaritano foi exemplo e norma segundo os quais se orientou o nosso Concílio»” (BJEM).

 

– “Neste Santo, poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática. Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos. Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas (…). É meu vivo desejo – explicita o Santo Padre – que o povo cristão reflita, durante o Jubileu sobre as obras de misericórdia corporal e espiritual… A pregação de Jesus apresenta-nos estas Obras de Misericórdia, para podermos perceber se vivemos ou não como Seus discípulos” (BJEM).

   

5. Igrejas Jubilares e Peregrinação nas Ouvidorias

 

Para além da Igreja Catedral que será, para a Diocese, a igreja jubilar por excelência, também são designadas como igrejas jubilares os cinco Santuários Diocesanos: Santo Cristo em Ponta Delgada, Bom Jesus no Pico, Nª. Sª. da Conceição em Angra, Santo Cristo da Caldeira em S. Jorge e Nª. Sª. dos Mi­lagres da Serreta na Terceira, e ainda outras igrejas especial­mente significativas em cada ilha e ouvidoria.

A visita da imagem peregrina poderá coincidir com essa igreja jubilar ou com outra, na ilha ou ouvidoria, com a invocação à Virgem Maria, particularmente a Nª Sª. do Rosário, de Fátima ou da Misericórdia.

 

A Igreja do Cabouco (São Miguel), dedicada a Nossa Senhora da Misericórdia seja considerada Igreja Jubilar, onde uma equipa de Missionários da Misericórdia garanta o apoio continuado às iniciativas do Ano Santo da Misericórdia.

 

À prática da peregrinação está ligada a Indulgência Jubilar que exige a celebração do Sacramento da Reconciliação, a comunhão eucarística, a oração pelo Santo Padre e a contrição perfeita. Para além da participação numa acção litúrgica requer-se a oração do Pai-nosso, a Profissão de Fé e a invocação da Virgem Maria.

 

6. Visita da imagem peregrina a cada ilha

 

Trata-se de um momento da missão evangelizadora na Igreja e da Igreja. A visita da mesma imagem nas décadas de 40 e 80 do século passado mobilizou todas as comunidades cristãs num acolhimento caloroso, marcado pela alegria de receber, na fé, o ícone da Mãe de Deus, contemplação do rosto terno e misericordioso de Deus, sempre objecto da devoção e do carinho dos fieis. Agora, de 7 de Janeiro a 28 de Fevereiro de 2016, na simplicidade e na grandeza de povo crente, entoaremos com Maria o cântico de louvor e gratidão a Deus pela grandeza das suas obras, proclamando com entusiasmo a profecia: «de hoje em dia me chamarão bem-aventurada todas as gerações» (Lc. 1, 48).

 

Os Bispos de Portugal, a este propósito, convidam «o Povo de Deus a entrar em profundidade na celebração da sua fé, particularmente por meio da participação na Eucaristia, na celebração do Sacramento da Penitência e da Unção dos Doentes; para incentivar à oração de adoração diante do Santíssimo Sacramento, tão característica da espiritualidade de Fátima; e para relançar o hábito da oração mariana do Rosário nas famílias cristãs, acompanhada pelas meditações bíblicas e pelo silêncio contemplativo».

 

As crianças são convidadas a crescer no amor a Jesus e Nossa Senhora, seguindo o exemplo dos três Pastorinhos. Pede-se que todos acolham a imagem da Virgem Peregrina com sobriedade e que a visita seja ocasião de solicitude e partilha com os pobres. A todos se exorta a acolher a Virgem Peregrina de Fátima como a imagem da “Igreja em saída”, que vai ao encontro dos seus filhos e filhas em todas as periferias para lhes levar o anúncio de Jesus Cristo como o único Salvador». (CEP, 16 de abril de 2015).

 

7. «A Porta da Misericórdia»

 

– «Maria, Mãe de Ternura e de Misericórdia» é a figura e modelo da Igreja (cf. D. António Marto, Nota Pastoral, 15 de Setembro de 2015). É a Porta da Misericórdia, que nos conduz a experimentar a misericórdia divina, sempre maior que o nosso pecado. «Como a mulher do Apocalipse (Ap 12, 1-10) não nos deixa sós, mas assiste-nos na constante luta contra as forças do mal… De fato, depois de elevada aos Céus, não abandonou esta missão salutar… Com o Seu amor de Mãe, convida os irmãos de Seu Filho, que ainda peregrinam e se debatem entre perigos e angústias, até que sejam conduzidos à Pátria feliz. Por isso, a Santíssima Virgem Maria é invocada na Igreja com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira» (LG 62).

 

– «O pensamento volta-se agora para a Mãe de Misericórdia –sugere o Papa Francisco. A doçura do Seu olhar nos acompanhe neste Ano Santo, para podermos todos nós redescobrir a alegria da ternura de Deus. Ninguém, como Maria, conheceu a profundidade do mistério de Deus feito homem. Na Sua vida, tudo foi plasmado pela presença da misericórdia feita carne. A Mãe do Crucificado Ressuscitado entrou no santuário da misericórdia divina, porque participou no mistério do Seu amor…

 

– «O Seu cântico de louvor, no limiar da casa de Isabel, foi dedicado à misericórdia, que se estende “de geração em geração” (Lc 1, 50). Também nós estávamos presentes naquelas palavras proféticas da Virgem Maria. Isto servir-nos-á de conforto e apoio no momento de atravessarmos a Porta Santa, para experimentar os frutos da misericórdia divina… Maria atesta que a misericórdia do Filho de Deus não conhece limites e alcança a todos, sem excluir ninguém. Dirijamos-Lhe a oração, antiga e sempre nova, da Salve Rainha, pedindo-Lhe que nunca se canse de volver para nós os Seus olhos misericordiosos e nos faça dignos de contemplar o rosto da misericórdia, Seu Filho Jesus» (BJEM).

 

A Virgem Mãe nos repete ainda hoje, como outrora nas Bodas de Cana: Fazei tudo o que Cristo vos disser. Ela não tem nada mais a dar-nos senão o Seu Filho, Único Salvador do mundo. Ela é realmente a Porta da Misericórdia.

 

Prodígio da graça divina, foi Imaculada desde a Sua Conceição, subiu ao céu em corpo e alma e foi coroada como rainha do céu e glória de todos os santos. É a Porta Santa da Misericórdia. Eis o Teu Filho – diz Jesus a João, no alto da Cruz. E, a partir daquele momento – assinala o texto evangélico – o discípulo recebeu-a em sua casa. Efetivamente, não se pode ser discípulo missionário – como recomenda o Papa Francisco – se Nossa Senhora não for de casa.

 

 

+ António, Bispo de Angra

Angra, 08 de Dezembro de 2015

Solenidade da Imaculada Conceição.