Sé Catedral.

1. As leituras, que acabámos de escutar podem ajudar-nos a vivermos esta celebração numa verdadeira perspectiva de fé:

 

– Na 1ª leitura o profeta Neemias, convida o povo de Israel a fazer festa, depois de ter ouvido e meditado a Palavra de Deus: Ide para vossas casas e fazei «Hoje é um dia consagrado; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza».

 

– Na 2ª leitura S. Paulo apresenta-nos o motivo fundamental, que nos leva a nós Igreja a fazermos festa: «Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos baptizados num só Espírito, para constituirmos um só corpo e a todos nos foi dado a beber um só Espírito. De facto, o corpo não é constituído por um só membro, mas por muitos… Vós sois o corpo de Cristo e seus membros, cada um por sua parte».

 

– No texto do Evangelho, Lucas resume assim a missão salvadora de Jesus: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres…, e a proclamar o ano da graça do Senhor». Aqui está resumida a missão salvadora, que Jesus assume claramente: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».

 

2. Aqui temos também muito claramente o sentido e alcance do ministério sacerdotal. Antes de mais, trata-se de uma graça: «não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi… Já não vos chama servos, mas amigos». Uma graça, não para dominar o mundo, mas para servir e dar a vida. «O Filho do Homem veio ao mundo, não para ser servido, mas para servir e dar a vida». “O seu caminho é também o nosso caminho” (Regra de Vida SCJ).

 

«Fazei tudo o que Ele vos disser» – recomendou Nossa Senhora nas Bodas de Cana. E fá-lo também hoje: nada mais tem a dar-nos senão o Seu Filho, Único Salvador do Mundo, ontem, hoje e sempre. Ela é “figura e modelo da Igreja”, que como Ela e n’Ela tem também de ser Mãe.

 

Ela está presente no nascimento e crescimento da Igreja. É a Mãe da Igreja.

Os Evangelhos não referem qualquer aparição de Jesus ressuscitado a Sua Mãe.

Todavia, nos Actos dos Apóstolos, Maria aparece integrada na comunidade dos que crêem no Ressuscitado. Como referem os Actos dos Apóstolos, na véspera de Pentecostes, vemos os discípulos de Jesus reunidos no Cenáculo, «assíduos e concordes na oração, com algumas mulheres e com Maria, Mãe de Jesus» (Act 1, 14).

 

«Mãe de ternura e de Misericórdia» é a figura e modelo da Igreja (cf D. António Marto, Nota Pastoral 2015). É a «Porta da Misericórdia.», que nos conduz a experimentar a misericórdia divina, sempre maior que o nosso pecado. «Como a mulher do Apocalipse (cf. Ap. 12, 1-10), não nos deixa sós, mas assiste-nos na constante luta contra as forças do mal… Por isso a Santíssima Virgem Maria é invocada na Igreja com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Ampara e Medianeira» (LG 62).

 

3. Como nos recomenda o Papa Francisco, «o pensamento volta-se agora para a Mãe de Misericórdia. A doçura do Seu olhar nos acompanha, neste Ano Santo, para podermos todos nós redescobrir a alegria da ternura de Deus. Ninguém, como Maria conheceu a profundidade do mistério de Deus feito homem. Na Sua vida tudo foi plasmado pela misericórdia feita carne» (Papa Francisco, Bula de Promulgação do Ano Santo, 2015).

 

É realmente a «Porta da Misericórdia», como muito bem explica o papa Francisco:

«Hoje é tempo de misericórdia: as situações de miséria e de conflito são para Deus ocasiões de misericórdia».

 

E o Papa Emérito, Bento XVI, quando ainda Cardeal, explicava de forma muito elucidativa, como a mariologia e a devoção a Nossa Senhora ajudam a salvaguardar e desenvolver o carácter materno e esponsal da Igreja:

 

º «A Igreja é mais do que “povo”, mais do que estrutura e acção: nela vive o mistério da maternidade e do amor esponsal que permite a maternidade.

 

º «Onde a Igreja é vista só como masculina, estrutural, institucional, aí desvanece-se o que é a especificidade da Igreja – essa realidade central de que se trata na Bíblia e nos Padres, em todas as passagens sobre a Igreja».

 

Com muito bem explica S. Paulo, a Igreja é «Corpo de Cristo». Portanto, não é apenas organização, mas sim organismo de Cristo, que á a Cabeça da Igreja e nós membros do Seu Corpo, que vivem da vida desse Corpo.

 

Assim a Mariologia, que coloca Maria na vida da Igreja, ajuda-nos a não vivermos o ministério sacerdotal como empresários, que fazem e organizam iniciativas…

Como a Virgem Maria, a Igreja tem de ser “Mãe”, que gera e comunica a vida.

 

Assim deve ser igualmente o ministério sacerdotal. Por isso, entreguemos aos cuidados da «Mãe» estes nossos irmãos, que vão ser ordenados e instituídos nos ministérios.

 

+ António, Bispo de Angra

Sé Catedral de Angra, 24 de Janeiro de 2016.