Igreja Paroquial da Santíssima Trindade. Lajes do Pico.
Neste dia da solenidade da Ascensão do Senhor, estamos reunidos para celebrar a ressurreição de Jesus Cristo e n’ela dedicarmos o novo altar desta Igreja das Lajes. Celebramos também o dia mundial das comunicações sociais alertando-nos para a importância da comunicação na sociedade actual.
É uma celebração cheia de sinais que importa decifrar e de interpelações que exigem a resposta da nossa parte.
Focados na celebração da Ascensão, reconhecemos que esta é uma das manifestações de Jesus Cristo Ressuscitado. Por isso, se diz no texto sagrado que passados quarenta dias da ressurreição, Jesus de Nazaré subiu aos Céus onde se contempla na Sua glorificação.
Para entrarmos em profundidade no Mistério de Jesus Cristo e n’Ele iluminarmos o nosso próprio mistério, teremos de responder ao desafio que nos é lançado por S. Paulo quando diz: «o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espirito de sabedoria e de revelação para O conhecerdes bem». Na verdade, o maior de todos os problemas que se coloca à pessoa humana de hoje é o desconhecimento do mistério de Cristo. Esta ignorância não só comporta a incapacidade para chegar ao conhecimento de Deus, vivo e verdadeiro, mas também o desconhecimento do que é verdadeiramente a grandeza e a dignidade de cada pessoa humana.
No fundamento de todas as crises, dificuldades, tumultos, desesperos, violências e exclusões, está a distorção do que é verdadeiramente ser pessoa.
Daí, continua S. Paulo dizendo «sejam iluminados os olhos do vosso coração a fim de saberdes que esperança constitui o Seu chamamento, que tesouros de glória encerra a Sua herança e a enorme grandeza representa o Seu poder entre os crentes».
Para nos alertar para a necessidade de um conhecimento verdadeiro que só poderá realizar-se pela totalidade das faculdades do homem, S. Paulo afirma que sejam iluminados os olhos do coração. Isto é, só se poderá conhecer a Jesus Cristo na comunhão com Ele, na intimidade, no diálogo e na entrega do ser pessoal a Cristo.
Porque estamos perante o maior de todos os desafios lançados à humanidade, esta solenidade comporta também o envio de anunciar e realizar os mesmos gestos libertadores de Jesus Cristo.
Sim, realmente fazer a experiência de Jesus Cristo Vivo exige escutar o Seu chamamento e responder-Lhe corajosamente ao envio que Ele dirige a todo e cada um dos seus discípulos. Sem medo, aceitemos esta missão na certeza de que Jesus Cristo estará sempre connosco até ao fim dos tempos.
Esta é a boa noticia de que somos portadores e que motiva o Santo Padre, na sua mensagem para o dia mundial das comunicações sociais, a desafiar todos os comunicadores dos diversos meios de comunicação social a rejeitarem tão só a noticiar as más noticias e a optarem pela Boa Nova que está antes de mais em Jesus Cristo.
Usando as palavras do Papa Francisco diremos que «para nós, cristãos, os óculos adequados para decifrar a realidade só podem ser os da boa notícia: partir da Boa Notícia por excelência, ou seja, o “Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1, 1)».
Iluminados pelas palavras de Jesus de Nazaré que nos dizem «não tenhas medo, que Eu estou contigo» (Is 43, 5), reconhecemos que «é a palavra consoladora de um Deus desde sempre envolvido na história do seu povo».
Assim, «visto sob esta luz, qualquer novo drama que aconteça na história do mundo torna-se cenário possível também duma boa notícia, uma vez que o amor consegue sempre encontrar o caminho da proximidade e suscitar corações capazes de se comover, rostos capazes de não se abater, mãos prontas a construir».
Mas estamos também a celebrar a dedicação do novo altar desta Igreja. Este é na verdade um sinal muito significativo da presença de Jesus Cristo Vivo.
Ele é verdadeiramente o sacerdote, o cordeiro e o altar. Deste modo, olhando para esta mesa não vemos tão só a sua materialidade mas reconhecemos quem se quer manifestar através deste sinal. Vemos nela o próprio Jesus Cristo que se oferece em alimento e que convida para a celebração da páscoa semanal.
Caros cristãos, o altar, sinal da presença de Jesus Cristo, é uma chamada para a participação na Eucaristia dominical na qual se celebra a vida nova de Jesus Ressuscitado, que alimenta a fé, orienta a esperança e fortalece a caridade.
À volta do altar se reúne a comunidade cristã. Deste modo o altar torna-se apelo constante a promover a comunidade cristã de modo que cada cristão dela se sinta membro integrante e participativo e assuma como condição de vida a partilha dos seus dons e carismas com os seus irmãos.
Mas o altar que alimenta a comunidade cristã com o corpo e sangue de Jesus Cristo, torna-se convite para a missão no meio do mundo, capacitando cada cristão e sobretudo cada grupo e cada movimento a ser fermento de uma nova humanidade através do testemunho do Evangelho.
Por isso, diz o Concilio que «a Liturgia, pela qual, especialmente no sacrifício eucarístico, “se opera o fruto da nossa Redenção”, contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na acção e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a acção à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos» (SC, 2).
E especifica ainda mais a função litúrgica da Igreja ao sublinhar que «ao mesmo tempo que edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em morada de Deus no Espírito, até à medida da idade da plenitude de Cristo, robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo e mostra a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações, para reunir à sua sombra os filhos de Deus dispersos, até que haja um só rebanho e um só pastor» (SC.2).
Convido esta comunidade cristã das Lajes a caminhar decididamente na promoção da autentica comunidade cristã, que a partir da Eucaristia assume a missão de ser testemunha de Cristo no mundo de hoje.
Imploro de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores, Trono da Graça, que derrame as suas graças e bênçãos sobre todos os que vivem nesta paróquia e os que estão na emigração, as famílias, os idosos, os doentes, as crianças, os jovens, os presos e os excluídos social, religiosa ou culturalmente, e nos encaminhe pelas sendas da evangelização do mundo de hoje.
Amen
+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores