Paroquial Nª Sª da Ajuda. Covoada.

Estamos reunidos nesta celebração eucarística para dar graças a Deus pelos 40 anos da paróquia da Covoada, para reafirmarmos  o nosso empenho em viver a dimensão comunitária da nossa fé em Jesus Cristo, projectarmos o nosso olhar para o futuro com esperança e com o compromisso de testemunhar o Evangelho no meio do mundo no qual vivemos.

É muito oportuna a pergunta que é feita a Jesus Cristo e que nos é relatada no Evangelho que se refere à inquietação por saber qual seja o maior de todos os mandamentos. A consequente resposta de Jesus de Nazaré é eloquente e interpelante.

Se o Evangelho quer colocar nos nossos lábios a mesma questão que aquele doutor da lei dirigiu a Jesus Cristo, igualmente quer comprometer-nos com a Sua resposta.

Na verdade o fundamental da nossa relação com Deus está contida nesta expressão amar a Deus e amar ao próximo.

Mas, detenhamo-nos a meditar no alcance da expressão «amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente». Reconhecemos que somos interpelados a concretizar a nossa relação com Deus numa entrega total de nós mesmos, com todas as nossas faculdades e todo o nosso ser. Aliás, por várias vezes Jesus Cristo proclamou esta verdade perante os seus discípulos. O autêntico critério de vida do cristão é entregar o seu ser a Deus, despojar-se a si mesmo e na humildade deixar-se conduzir pela vontade divina.

Contudo, Jesus Cristo não se limita a esta afirmação mas acrescenta que esta relação tão profunda que o amor estabelece entre Deus e cada um de nós é vivida igualmente no amor ao próximo. Por isso, afirma: «amarás o teu próximo como a ti mesmo». Realmente, é o mesmo amor que nos une a Deus que nos torna próximos dos nossos irmãos.

Esta é a marca de uma comunidade cristã. Por isso, afirma o Papa S. João Paulo II na Exortação pos–sinodal «os fiéis leigos» que num dado passo sublinha que «é necessário que todos redescubramos, na fé, a verdadeira face da Paróquia, ou seja, o próprio “mistério” da Igreja presente e operante nela: embora, por vezes, pobre em pessoas e em meios, e outras vezes dispersa em territórios vastíssimos ou quase desaparecida no meio de bairros modernos populosos e caóticos, a Paróquia não é principalmente uma estrutura, um território, um edifício, mas é sobretudo “a família de Deus, como uma fraternidade animada pelo espírito de unidade”, é  “uma casa de família, fraterna e acolhedora”, é a “comunidade de fiéis” (ChL 26). Na verdade, a Paróquia nutre a sua vida da Eucaristia, mistério de entrega de Jesus Cristo que configura todos os que vivem na comunidade cristã.

Reconhecemos, então, que «ela é uma comunidade idónea para celebrar a Eucaristia, na qual se situam a raiz viva do seu edificar-se e o vínculo sacramental do seu estar em plena comunhão com toda a Igreja» (Ib, 26). De facto, «essa idoneidade mergulha no facto de a Paróquia ser uma comunidade de fé e uma comunidade orgânica, isto é, constituída pelos ministros ordenados e pelos outros cristãos, na qual o pároco — que representa o Bispo diocesano —é o vínculo hierárquico com toda a Igreja particular» (Ib., 26).

Já o Papa Francisco na Exortação pos-sinodal «a alegria do Evangelho», ao referir-se à paróquia reconhece que ela não é uma estrutura caduca, muito pelo contrário, ela tem a capacidade de se renovar através da docilidade e criatividade missionárias de todos os agentes da comunidade, e sublinha que «embora não seja certamente a única instituição evangelizadora, se for capaz de se reformar e adaptar constantemente, continuará a ser “a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas” (EG, 28).

Para que a paróquia cumpra a sua missão, exige-se «que esteja realmente em contacto com as famílias e com a vida do povo, e não se torne uma estrutura complicada, separada das pessoas, nem um grupo de eleitos que olham para si mesmos» (Ib. 28).

Mais ainda «a paróquia é presença eclesial no território, âmbito para a escuta da Palavra, o crescimento da vida cristã, o diálogo, o anúncio, a caridade generosa, a adoração e a celebração» (Ib. 28). Aliás, «através de todas as suas actividades, a paróquia incentiva e forma os seus membros para serem agentes da evangelização» (Ib. 28).

Na verdade, a paróquia «é comunidade de comunidades, santuário onde os sedentos vão beber para continuarem a caminhar, e centro de constante envio missionário» (Ib. 28).

Eis o caminho de renovação que se exige às comunidades paroquiais de modo a torná-las mais próximas das pessoas, sendo âmbitos de viva comunhão e participação e orientando-as completamente para a missão.

A paróquia é a comunidade de discípulos missionários. Edifica-se na vivência eucarística e abre-se ao mundo para lhe oferecer o Evangelho. Constituem tarefas essenciais da comunidade paroquial, o anuncio e a catequese, a celebração dos mistérios da fé, a partilha fraterna e a edificação comunitária abrindo-se à missão no meio do mundo.

Interpela-nos a palavra de S. Paulo, tal como nos foi proclamada na segunda leitura. Começa o Apóstolo por elogiar o comportamento dos Tessalonicenses que seguindo o exemplo de Paulo receberam a Palavra de Deus, no meio de muitas tribulações mas com a alegria que o Espirito Santo sabe oferecer e, deste modo se tornaram modelo para todos os crentes da Macedónia e da Acaia e em muitos outros lugares.

Estamos perante o testemunho pessoal de S. Paulo que contagia a comunidade cristã de Tessalónica e que a converte também a ela como anunciadora das maravilhas de Deus no meio de um mundo hostil e adverso.

Do mesmo modo, a exigência do testemunho pessoal e comunitário é fundamental para a missão que a Igreja tem a desempenhar no meio do mundo que continua a ser indiferente senão mesmo inimigo da fé cristã.

Dar graças a Deus pela vida de uma comunidade paroquial que se iniciou enquanto paróquia, há 40 anos, é igualmente assumir o compromisso de renovação constante da nossa paróquia para que ela seja evangelizadora e manifeste a comunhão eclesial vivida no amor a Deus e ao próximo. Mas é igualmente o desafio a projectar a paróquia para o futuro. Alicerçada em Jesus Cristo, a rocha firme, e pela presença permanente do Espirito Santo, caminhemos decididamente iluminados pela Palavra de Deus e auscultando os Sinais dos Tempos na edificação de uma comunidade que se rejuvenesce pela frescura do Evangelho e se coloca nas sendas da evangelização do mundo.

Imploro de Nossa Senhora da Ajuda, nossa Padroeira que abençoe as famílias, as crianças, os jovens e os idosos, os adultos e os emigrados, os que vivem excluídos ou na pobreza, os encarcerados e os que padecem algum sofrimento no corpo ou no espirito e nos conduza pelos caminhos que levam à evangelização do mundo de hoje.

Amen

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores