Sé Catedral. Angra.

«Nós oramos continuamente por vós para que o nosso Deus vos torne dignos da vossa vocação cristã». Estas palavras que S. Paulo dirige à Comunidade de Tessalónica, inspiram-nos a nós hoje a darmos graças por várias gerações de catequistas que ao longo destes sessenta anos ofereceram à Igreja diocesana a sua dedicação nesta tarefa que se afigura como primordial para a edificação de verdadeiras comunidades cristãs.

Na verdade a catequese é das mais nobres missões da Igreja em ordem à evangelização. Desde o seu inicio, a par com a pregação e o testemunho evangélico, as primeiras comunidades cristãs contaram com a organização da catequese que oferecesse ao catecúmeno um itinerário global, isto é, que atingisse com a Boa Nova de Jesus Cristo todas as suas capacidades e faculdades e, deste modo, edificasse o cristão. Este uma vez baptizado, assumia o seu compromisso jubiloso de participar activamente numa comunidade cristã, sendo assíduo ao ensino dos apóstolos, à fracção do pão e à partilha fraterna (cfr. Act. 2, 42).

A primeira leitura oferece-nos o fundamento para a acção do cristão e da comunidade cristã quando refere que Deus ama tudo quanto existe e não tem aversão a coisa alguma por Ele criada. De facto, entre todas as acções pelas quais de desenvolve a missão da Igreja a catequese, dada a sua especificidade, não poderá alicerçar-se senão no amor.

Deste modo, reconhecemos que à imagem de Jesus Cristo o catequista é uma pessoa moldada pelo amor de Deus de tal modo que, comungando no amor de Jesus Cristo, donde recebe o chamamento e o envio, reflecte em toda a sua vida o mesmo amor que Deus tem pelas suas criaturas.

No amor divino incendeia-se uma paixão tal que não poderá deixar alguém sossegado enquanto não for ao encontro de todo o ser humano para lhe oferecer a Boa Noticia de Jesus Cristo.

Esta realidade do amor de Deus torna-se muito perceptível na passagem do Evangelho na qual se relata o encontro entre Jesus de Nazaré e Zaqueu. Neste episódio revela-se o continuo desejo de Jesus Cristo de se encontrar com toda a pessoa, fixando-a a partir da realidade concreta onde ela se apresenta.

Também aqui temos um dado importante para a catequese. No contexto do amor que informa todo o ser do catequista, o olhar concreto e real sobre aquele a quem se dirige a Palavra é fundamental. Na verdade, a pessoa não é uma abstracção, muito pelo contrário, a pessoa é alguém muito real e concreto, que tem de ser conhecida e amada por si mesma, está inserida num contexto familiar, social, cultural, educativo ou profissional que condicionam o seu ser e o seu agir.

Para uma catequese eficaz, levados pelo amor, numa real paixão na missão de evangelizar, o catequista deve conhecer em profundidade o ser do catequisando e os seu ambientes de vida.

Vejamos que do mesmo modo que o Evangelho evidencia o olhar de Jesus Cristo dirigido a Zaqueu e o interesse deste em ver a Jesus que ia a passar, realça igualmente as dificuldades pessoais e sociais para que o próprio pudesse acercar-se a Jesus.

Uma vez desbloqueadas as dificuldades, dá-se o mistério do encontro e do convite patente na ordem de Jesus Cristo dada a Zaqueu para que desça porque quer ficar em sua casa.

A interioridade, o diálogo intimo e deslumbrante, no qual se dá o verdadeiro encontro e se experimenta o amor infinito de Jesus Cristo faz parte do mistério que só Jesus de Nazaré poderá oferecer.

De facto, a catequese, na pessoa do catequista, terá de reconhecer que tudo converge para este encontro intimo no qual se saboreia as delicias do amor de Deus e do qual brota o convite ao seguimento. É, de facto, neste encontro que se dá a conversão e a mudança de vida.

Eis o itinerário de iniciação cristã tão importante e imprescindível na catequese de qualquer idade e de modo particular, nas crianças e jovens.

A partir desta reflexão, permitam-me que realce algumas características do ser catequista que são ao mesmo tempo apelos a uma renovada catequese para os nossos tempos.

O catequista é a pessoa de profunda comunhão com Jesus Cristo, na participação consciente e activa dos sacramentos, na oração permanente, que gere um amor a Deus e aos irmãos que sinta o impulso à missão, acolhendo, testemunhando e ensinando, de modo que esteja consciente do itinerário de iniciação cristã;

O catequista é uma pessoa verdadeiramente eclesial e inserida na comunidade cristã que a sua vida seja reflexo da participação activa na comunidade, que se alimenta da Eucaristia, que conforma a sua vida com os princípios evangélicos de modo que seja testemunha autêntica do evangelho vivido e convivido;

O catequista é uma pessoa que à luz do evangelho e implorando a luz do Espirito Santo, interpreta os Sinais dos Tempos de modo a auscultar a alma humana e a discernir os desafios que o mundo de hoje lança à Igreja e à sua missão;

O catequista procura servir cada pessoa de modo a intuir em cada um as sementes do Verbo que estão presentes para as fazer crescer e frutificar;

O catequista procura a permanente renovação e a justa criatividade através das fontes da alegria, na formação permanente e na vida comunitária;

O catequista será o primeiro a assumir em si mesmo o itinerário de iniciação cristã, que uma vez, dirigido a todas as faculdades humanas obriga à conversão pessoal e à integração comunitária, faz da Igreja uma comunidade de discípulos missionários.

Neste dia em que damos graças a Deus por tantos que nos antecederam na maravilhosa tarefa da catequese no contexto da nossa diocese, sentimo-nos interpelados pelo Evangelho de Jesus Cristo e pelo mundo de hoje, a um compromisso consciente e amoroso para respondermos aos tempos em que vivemos.

Não poderei deixar de sublinhar que estamos a celebrar este jubileu quando a diocese se empenha na caminha sinodal. Esta tem como lema «a beleza de caminharmos juntos em Cristo».

Caros catequistas, a Igreja do futuro será sinodal, isto é, com a participação de todos os baptizados, ou não será. O cristianismo ritualizado e individualista de certas épocas da vida da Igreja está a desmoronar-se. É uma Igreja verdadeiramente evangélica que urge edificar.

É neste olhar, com esta confiança e nesta profundidade que quero contar convosco. Se todos nós nos unirmos na missão evangelizadora, maravilhas irão acontecer e poderemos exclamar como Maria de Nazaré «a minha alma glorifica ao Senhor» porque olhou para os seus humildes servos.

Imploro de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores, e do Beato João Baptista Machado, nosso Padroeiro, que abençoem todos os catequistas da nossa diocese e nos façam caminhar nas sendas de evangelização do mundo de hoje.

 

Amen.

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores