Sé Catedral. Angra.
A palavra de Deus que acabámos de escutar convida-nos pela boca de Jesus de Nazaré à vigilância; através do profeta Isaias a subir ao Monte de Sião e ainda a integrarmo-nos no projecto de paz e de reconciliação que Deus quer oferecer ao seu Povo; da parte de S. Paulo somos interpelados a deixarmo-nos revestir de Jesus Cristo e a caminhar em pleno dia de modo que as nossas obras sejam vistas e apreciadas pelos homens.
Estamos a iniciar uma caminhada na experiência cristã que nos leva a viver o tempo de advento como tempo de esperança, numa atitude de vigilância à maneira de quem está ansioso por se encontrar com Aquele que lhe traz a Salvação; itinerário que exige esforço pessoal e comunitário para nos deixarmos converter e elevar para a verdadeira dignidade que só Jesus de Nazaré nos pode oferecer e, por isso, o convite à comunhão com Cristo deve ser tal que nos leve a viver a comunhão de modo que se exprima nas palavras de Paulo que nos convidam a revestirmo-nos de Cristo.
Deste modo, na experiência de Advento a que é chamada a comunidade cristã, integram-se os três tipos de Advento. O primeiro que tem a ver com o longo tempo da Promessa que tem a sua origem no chamamento de Abraão até ao seu cumprimento com a vinda de Jesus de Nazaré; o segundo que nos leva à mesma expectativa daqueles que sentiam a eminência da vinda de Jesus, o Filho de Deus, nomeadamente tocados pela pregação e pelo testemunho dos profetas, sobretudo de João Baptista, e pelo envolvimento de Maria de Nazaré na Encarnação do Messias; o terceiro que está muito vincado nas primeiras comunidades cristãs e que se prolonga por toda a vida da Igreja e que diz respeito à última vinda de Jesus Cristo no final dos tempos.
Contudo, em toda esta experiência de Advento, tempo de Esperança, move-nos o desejo de encontro com o Filho de Deus e com os irmãos. Daí o convite á vigilância e ao esforço por nos ultrapassarmos na nossa rotina e mediocridade do dia a dia, de nos libertarmos das prisões que não nos deixam ver claramente Aquele que continuamente vem ao nosso encontro e o nosso compromisso em viver e transmitir a paz que nos vem de Deus e que quer atingir toda a humanidade.
Estando a iniciar esta caminhada de Advento, somos enriquecidos nesta celebração com a ordenação de sete diáconos, seis para a nossa Igreja diocesana e um para a vida religiosa, na Ordem do Carmo; e ainda com a instituição de três jovens seminaristas no ministério de Leitor.
É uma esperança vivida e experienciada. Na verdade, vós jovens, na vossa entrega total ao serviço de Deus e da sua Igreja, sois para a comunidade cristã e para o mundo motivo de uma alegria e de uma esperança que vai para além dos projectos humanos.
Também em vós, descobrimos o que o Apóstolo Paulo afirma perante a comunidade ao exortá-la a revestir-se de Cristo, abandonando as obras das trevas e a revestir-se das armas da luz.
Jesus Cristo é verdadeiramente a luz que vem a este mundo mergulhado nas trevas da ignorância, do erro e da mentira. Urge proclamar caminhos novos de amor, de verdade, de justiça, de fraternidade e de paz.
De facto, caros jovens, o ministério de diácono integra duas tarefas principais, o serviço da caridade e a proclamação da Palavra. Revestidos de Cristo e pelo dom do Espirito Santo pela imposição das mãos, integrai-vos na missão da Igreja, dedicando todo o vosso ser à proclamação da Palavra e ao serviço aos mais excluídos.
Realmente, a proclamação da Palavra é já em si um serviço precioso e fundamental para tornar presente a Deus onde Ele ainda não é conhecido ou não é autenticamente vivido. Mas a partir da Palavra urge mostrar em gestos de partilha fraterna e de serviço aos irmãos a realidade da Pessoa de Jesus Cristo como centro de toda a Palavra de Deus.
O exercício do ministério de diácono que ireis receber não é uma função individual, já que todos os ministérios na Igreja são vividos e realizados na comunidade cristã. Daí que através de vós a Igreja e a comunidade diocesana se sentem mais enriquecidas, mas também mais interpeladas a caminharem, em todos os seus membros para uma comunidade de serviço, isto é uma comunidade ministerial.
Como ministério ordenado, o diaconado exerce-se na relação com o ministério episcopal, do qual depende, mas também do ministério presbiteral, incluindo os serviços ministerais dos leigos. Sublinhamos, assim, a seu modo também, o ministério de Leitor,
Se nós escutamos a Jesus de Nazaré a dizer-nos que veio não para ser servido mas para servir, então, reconhecemos que este ministério do diaconado desperta em todos nós, em todos e cada um dos baptizados a missão única e essencial de cada cristão que é de servir.
Incluo, nesta nossa reflexão e neste contexto, o tempo oportuno e interpelante que estamos a viver na nossa diocese com o convite à caminhada sinodal. Sentindo a beleza de caminharmos juntos em Cristo, queremos despertar em todas as comunidades cristãs o desejo de participação activa de todos os baptizados e de renovarmos a nossa Igreja diocesana, refrescada nas fontes da alegria, de modo que seja uma verdadeira comunidade de discípulos missionários.
Conto convosco e com o vosso ministério, caros jovens, vós podeis dar à Igreja a frescura e os sonhos da vossa juventude, o entusiasmo e a generosidade da vossa entrega, o testemunho e o desafio do vosso serviço no amor aos irmãos mais excluídos da nossa sociedade.
Tempo de Advento, que se realiza no âmbito litúrgico, mas também tempo de esperança que se realiza no contexto do nosso mundo e da nossa comunidade cristã. A expectativa de tantos que na nossa sociedade se dirige para um horizonte indefinido, vós jovens, com a vossa generosidade e missão ireis dizer que em Jesus de Nazaré e pela Sua encarnação a humanidade foi elevada à dignidade da Transcendência de Deus; que a Igreja tantas vezes desalentada e adormecida nos seus membros, está chamada a revestir-se de Cristo e a revigorar-se e renovar-se pela missão de servir a pessoa e a sociedade.
Imploramos de Nossa Senhora, Mãe e rainha dos Açores, Senhora do Advento da Esperança realizada, que vos abençoe e que o Beato João Baptista Machado, nosso Padroeiro, vos fortaleza com o seu exemplo de serviço total à Igreja e ao mundo.
Amen.
+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores