Angra.
Um acto eleitoral reveste-se sempre da maior importância para a vida da sociedade, seja ele a nível europeu, nacional, regional ou autárquico.
O Povo Açoriano, no passado domingo, foi chamado a dar o seu voto para decidir o trajecto político, social e económico dos próximos anos.
É justo apresentar uma palavra de reconhecimento a todos os cidadãos dos Açores que se empenharam no futuro da sua Autonomia. É de realçar o facto de a abstenção, embora ainda muito elevada, ter baixado significativamente. Importa analisar este facto, saber dos factores que influenciaram este comportamento para continuar a oferecer a melhor resposta que entusiasme todos os cidadãos a estarem presentes com o seu voto nos momentos que são chamados ao seu exercício.
Estas eleições foram marcadas por uma variedade de propostas ideológicas e políticas vindas de uma assinalável quantidade de partidos. Este facto vai-se reflectir na composição da Assembleia Regional que tendo uma pluralidade de propostas e projectos, se se colocar o bem comum como prioridade, sairá mais enriquecida e caminharemos para uma melhor promoção da Comunidade Açoriana.
Felicito a todos os que intervieram no debate eleitoral, a todos os candidatos e seus líderes dos diversos partidos e a todos os que foram eleitos para representarem o Povo Açoriano na Assembleia Regional.
Uma palavra de especial felicitação aos que mereceram a maioria dos votos do Povo Açoriano porque também terão a responsabilidade de governar nos próximos anos. Apresento-lhes os meus votos de mútuo sucesso no seu trabalho governativo.
Permitam-me que convide a revisitar a última Encíclica do Papa Francisco «Todos Irmãos» que se propõe convidar todos os agentes na edificação da comunidade humana para promoverem a «sociedade de amizade» reconhecendo na prática que todos somos irmãos.
Referindo-se à vida política afirma que «para se tornar possível o desenvolvimento duma comunidade mundial capaz de realizar a fraternidade a partir de povos e nações que vivam a amizade social, é necessária a política melhor, a política colocada ao serviço do verdadeiro bem comum» (nº154).
Aliás, sublinha o Papa «reconhecer todo o ser humano como um irmão ou uma irmã e procurar uma amizade social que integre a todos não são meras utopias» (nº 180). Muito pelo contrário, «exigem a decisão e a capacidade de encontrar os percursos eficazes, que assegurem a sua real possibilidade» (nº 180).
Há gravíssimos problemas que afectam a vida dos Açorianos, uns já vêm de longa data, agora dramaticamente aumentados pela pandemia, outros são decorrentes da vida social e económica sempre a exigir atenção e respostas adequadas.
É nestas realidades concretas que todos os que compõem a Assembleia Legislativa em espírito de verdadeiro diálogo são chamados a responder.
Atendamos ainda ao apelo do Santo Padre quando refere que estamos perante a «urgência de se encontrar uma solução para tudo o que atenta contra os direitos humanos fundamentais» (nº 188). Na verdade, «os políticos são chamados a cuidar da fragilidade, da fragilidade dos povos e das pessoas» (nº 188).
De facto, «cuidar da fragilidade quer dizer força e ternura, luta e fecundidade, no meio dum modelo funcionalista e individualista que conduz inexoravelmente à “cultura do descarte”» (nº 188).
Juntando os esforços e colocando o bem comum e a dignidade de cada ser humano como prioridades absolutas, teremos capacidade para dar resposta aos inúmeros problemas que afligem o Povo Açoriano.
Apresento os meus votos de muito sucesso e bom desempenho a todos os que integram a Assembleia Legislativa e aqueles que serão chamados a governar esta Região Autónoma dos Açores.
João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores