«Ai de mim se não evangelizar» (1Cor. 9,16)
Damos início oficialmente ao novo ano pastoral no primeiro domingo de Advento. Embora numerosas actividades paroquiais e dos diversos grupos e movimentos já tenham começado, dadas as restrições a que a pandemia obrigou a sociedade e a Igreja, sentimos a necessidade de adiar por algum tempo a abertura deste segundo ano de caminhada sinodal que marca o ritmo da diocese.
A auscultação dos Sinais dos Tempos a que nos propusemos no primeiro ano de caminhada sinodal e que deve estar sempre presente na ação evangelizadora da Igreja ressalta a necessidade de orientar as comunidades cristãs para que possam responder evangelicamente aos desafios da cultura e da sociedade de hoje.
Neste sentido, temos pela frente a imperiosa tarefa de convocar todos os baptizados para a sua participação activa nas comunidades cristãs. Esta sua atitude participativa deve começar pela formação necessária para se compreender a centralidade da Eucaristia na promoção da comunhão e no dinamismo missionário.
Entre cinco áreas que devem integrar uma comunidade cristã renovada e capaz de responder aos desafios do tempo presente, a Assembleia Diocesana composta pelos membros dos Conselhos Diocesanos de Pastoral e Presbiteral indicou como prioridade para este ano a Igreja evangelizadora, a Igreja em diálogo com o mundo de hoje e a Igreja comunitária que promove os carismas e os ministérios entre os seus membros.
É este mesmo guião que será apresentado à diocese para que em cada comunidade cristã, em cada movimento, obra apostólica, instituições, comunidades de vida religiosa, sacerdotes e diáconos, serviços diocesanos e mesmo pessoas que de fora da prática cristã queiram integrar este estudo, se faça uma séria reflexão que conduza a uma missão renovadora no contexto do mundo actual.
O Concilio Ecuménico Vaticano II foi convocado para preparar a Igreja Universal para responder de forma credível ao mundo actual. É com a mesma convicção e seguindo os mesmos passos conciliares que queremos provocar na nossa diocese os seus dinamismos renovadores.
Estamos perante os desafios da recepção do Concilio. Na verdade a partir deste singular acontecimento na Igreja Universal e para melhor concretizar as determinações pastorais dele dimanadas, surgem os sínodos dos quais fomos tendo eco e dos quais temos usufruído.
De igual modo, a caminhada sinodal coloca-nos perante a forte interpelação ao aprofundamento da Palavra de Deus e dos documentos do Concilio Ecuménico Vaticano II. E, quando isto acontece, descobrimos a necessidade e a urgência de darmos a prioridade à evangelização em toda a acção pastoral das nossas comunidades cristãs.
Não podemos ficar indiferentes ao facto de S. Paulo VI a partir do primeiro sínodo que reflectiu sobre a Evangelização, isto é, como anunciar o Evangelho ao homem de hoje, desperte a Igreja com o seguinte apelo: «Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar» (EN, 14).
Vamos articular este desafio com uma outra exigência que se refere ao modo de evangelizar que forçosamente deve ser feito auscultando os Sinais dos Tempos e em diálogo sereno e lúcido com o mundo actual.
Como refere o Papa Francisco, a missão evangelizadora pertence a todo o Povo de Deus que na comunidade cristã se deve descobrir na riqueza da diversidade de carismas e ministérios. Deste modo, prosseguiremos a nossa reflexão em ordem a edificarmos comunidades cristãs nas quais sejam visíveis e nela actuem os diversos serviços que lhe são oferecidos pelo Espirito Santo em ordem à comunhão eclesial e à missão.
Estamos perante uma riqueza inesgotável e uma tarefa permanente a exigirem um esforço de conversão pessoal e comunitária. Que não nos faltem a coragem e a criatividade, a partilha de experiências suscitadas pelo mesmo Espirito e a iniciativa de propor o Evangelho com novo ardor, com novas linguagens e com novos métodos.
De facto, dada a descristianização da nossa sociedade, exige-se entre nós uma nova evangelização que segundo o dizer do Papa Francisco brota do encontro com Cristo que gera uma alegria tal que nos leva a anunciá-Lo, ou ainda, «quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem. Assim, não nos deveriam surpreender frases de São Paulo como estas: “O amor de Cristo nos absorve completamente” (2 Cor 5, 14); “ai de mim, se eu não evangelizar!” (1 Cor 9, 16)» (EG, 9).
Confiantes de que «um anúncio renovado proporciona aos crentes, mesmo tíbios ou não praticantes, uma nova alegria na fé e uma fecundidade evangelizadora» (EG, 11) propomo-nos caminhar nesta lúcida, exigente mas reconfortante aventura de evangelizar à maneira de Jesus Cristo.
Convido a todos os sacerdotes, diáconos, religiosos(as), grupos e movimentos, serviços diocesanos, organismos de apostolado, instituições e mesmo pessoas de boa vontade que se preocupam pela vivência autêntica do Evangelho, e sobretudo as comunidades cristãs a deixarem-se envolver por este desafio tão urgente e tão actual.
Este ano pastoral será iniciado com o habitual encontro do clero em cada uma das Vigararias e ainda reuniões de clero na Ouvidoria e com os leigos, religiosos(as), movimentos e instituições, também em cada uma das Ouvidorias, para apresentar as temáticas e a metodologia a seguir.
Dada a importância do ministério sacerdotal na caminhada sinodal, apelo a todos os sacerdotes para o seu empenho no acompanhamento e dinamização das suas comunidades, para que no presbitério se faça a experiência sinodal e haja uma profunda preparação do próximo conselho presbiteral.
O ano pastoral inicia-se a par com o começo da preparação para as Jornadas Mundiais da Juventude Lisboa /2023. Motivo a acrescentar para que cada comunidade cristã interpele os jovens para uma participação ativa na caminhada sinodal e despertá-los para a sua missão evangelizadora, nomeadamente junto dos demais jovens. Marcaremos, em cada paróquia ou Ouvidoria, o primeiro domingo do Advento com uma ação tipicamente juvenil que junte o início do ano pastoral, a caminhada sinodal e as JMJ Lisboa/2023.
Dada a situação de pandemia, apelo, mais uma vez, ao rigoroso cumprimento das regras sanitárias para que as celebrações litúrgicas e demais ações pastorais decorram com a adequada segurança.
Coloco no coração de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores, o programa deste ano pastoral e todos os cidadãos desta diocese, implorando a Sua Bênção.
+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores