Vila Franca do Campo.

Saúdo todas as famílias presentes nesta celebração fundamental e central no dia internacional da Família e no I Dia Diocesano da Família em Vila Franca do Campo, nas pessoas dos casais responsáveis pelo Serviço Diocesano de Pastoral Familiar e do seu assistente. Saúdo as crianças, membros mais queridos das nossas famílias, os jovens nos seus sonhos e incertezas, e os casais de todas as idades, sobretudo os que este ano, e hoje particularmente, são abençoados nos seus jubileus de 10, 25, 50 ou 60 anos de matrimonio, pois se todas as idades têm os seus desafios e crises também têm e os seus frutos e alegrias.

Este encontro, sonhado para o ano 2020, e adiado em 2021, acontece hoje, aberto a todas as famílias da ilha de São Miguel, e nelas a toda a Diocese açoriana, seja na pastoral do território, nas paróquias e nas ouvidorias, seja nos movimentos e associações do apostolado familiar. De facto, sempre que cuidamos das crianças, dos alunos, da catequese, das vocações, dos jovens, da preparação para o matrimónio, de enamorados, pais e mães, avós e irmãos, pobres, trabalhadores, idosos, viúvas, reformados, doentes, ou em estado de luto, estamos a falar de pastoral familiar. A comunidade cristã não se faz separando as pessoas por seleções ou elites, mas unindo-as numa família que vive e caminha junta na diferença de idades e de ciclos de vida, tal como vemos no livro dos Atos dos Apóstolos, quando um membro acolhe o anúncio jubiloso do evangelho, se converte e recebe o batismo.

Fundamentados na expressão de Jesus o Bom Pastor: «Eu venho para que tenham a vida e a tenham em abundância», concluímos a Semana da Vida, sob o lema «A vida que acolhemos», baseados na parábola do bom samaritano que «indo ter com ele, ligou-lhe as feridas (Lc. 10, 25-37), desde os que ainda não nasceram, à adoção, aos refugiados, ao que é diferente, ao que sofre, ao que cuida e à família no seu todo como lugar que acolhe e abriga todas estas situações humanas, que Jesus conheceu e redimiu na sua paixão, morte e ressurreição.

Chegados ao texto do evangelho deste dia, temos uma despedida, tal como tantas outras que fazemos, sobretudo ao deixar a ilha, agora na última Ceia, no cenáculo, razão pela qual estamos aqui. Trata-se de um texto pré-pascal, em que o quadro da traição e da entrega de Jesus por Judas estava definido e conhecido. Quando há uma despedida e uma morte há um testamento, a manifestação das últimas vontades.

Jesus ao instituir a eucaristia, mandou-nos fazer o que nós estamos a fazer em memória d’Ele, da entrega do Seu corpo e do seu sangue, da sua alma e divindade, e certos da Sua presença, aqui estamos a receber e dar essa vida nova da graça. É neste contexto que Jesus lava os pés aos discípulos, instituindo outro modo de estarmos no mundo familiar, profissional, social e eclesial. Os poderosos deste mundo exercem domínio sobre os outros, sobre a sua liberdade, ofendendo a dignidade de outro humano. Entre nós, os discípulos de Jesus, não deve ser assim. Então, S. João deixa-nos narrado o gesto do lava-pés, para nele vermos o estilo e o jeito que devem marcar as nossas relações, não de domínio, mas de serviço.

Postos estes dois imperativos: «fazei isto em memória de Mim», e «assim como Eu fiz deveis vós fazer também», temos o terceiro imperativo que é o mandamento novo do amor: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei». Podemos objetar: se isso é tão antigo, como que lhe chamam novo? Explico. Antigo, no tempo da selva, era «olho por olho, dente, por dente», depois «não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti», por defeito.

Mais tarde: «faz aos outros aquilo que queres que te façam a ti».  Hoje, «ama os outros como Jesus te amou», ou seja, o mandamento é novo porque eu já não devo amor os outros com o meu amor (que pode ser escasso), mas com o amor d’Ele que «repousa em mim, me consagrou e enviou a anunciar a paz e o bem». Assim percebemos melhor como é que em Jesus não há vingança, ressentimento, ódio, no seu processo de julgamento e condenação, inclusivamente na infidelidade e traição do seu discípulo e amigo Judas.

Transpondo o nome de Judas para o nosso, concluímos que Jesus nos amou primeiro, não obstante as nossas fragilidades, limites e debilidades. Foi Ele que nos tornou dignos do seu amor que não conhece limites e nunca acaba. Só o amor merece a nossa confiança. O amor, no dizer do Cântico dos cânticos «é mais forte do que a morte e as águas do mar não o podem submergir».

Este encontro é realizado sob o lema «Amor é Família», «é o nosso bem mais precioso», no dizer do Papa Francisco. Concedendo-nos o novo mandamento hoje, Jesus pede-nos que nos amemos uns aos outros não só e não tanto com o nosso amor, o meu amor, mas sobretudo, ou ampliando com o Seu Amor, que o Espírito Santo infunde nos nossos corações se o invocarmos com fé.

Assim, quando recebemos o Espírito Santo, recebemos a graça de Deus e a sua misericórdia, quando nos relacionamos com os outros não os amamos com o nosso amor, à nossa escala, mas com o amor de Deus, que pelo seu Espírito Santo está em nós. Aqui está a diferença do que é amar sem Deus ou fora d’Ele e do é amar em Deus e n’Ele. O verbo é o mesmo, mas a substância é qualitativamente diferente e superior.

 

Termino com a oração oficial do X Encontro Mundial das Famílias, que nos voltará a juntar no próximo mês de junho, fazendo nossas estas palavra e intenções:  Pai Santo, estamos aqui diante de Ti para louvar-Te e agradecer-Te pelo grande dom da família. Nós Te pedimos pelas famílias consagradas no sacramento do matrimónio, para que possam redescobrir todos os dias a graça recebida e, como pequenas Igrejas domésticas, saibam testemunhar a Tua Presença e o amor com o qual Cristo ama a Igreja. Nós Te pedimos pelas famílias que passam por dificuldades e sofrimentos, doença ou por problemas que só Tu conheces: que Tu as sustentes e as tornes conscientes do caminho de santificação ao qual as chamas, para que possam experimentar a Tua infinita misericórdia e encontrar novos caminhos para crescer no amor. Nós Te pedimos pelas crianças e jovens, para que possam encontrar-Te e responder com alegria à vocação que planeaste para eles; por seus pais e avós, para que sejam conscientes de serem sinal da paternidade e maternidade de Deus no cuidado dos filhos que, na carne e no espírito, Tu confias a eles; pela experiência de fraternidade que a família pode dar ao mundo. Senhor, concede que cada família possa viver a própria vocação à santidade na Igreja como um chamamento para ser protagonista da evangelização, ao serviço da vida e da paz, em comunhão com os sacerdotes e em cada estado de vida. Abençoa (este Encontro Diocesano e) o Encontro Mundial das Famílias. Ámen.