Sé Catedral. Angra.
«Fortalecei as mãos fatigadas, robustecei os joelhos vacilantes. Dizei aos corações perturbados: tende coragem não temais. Aí está o vosso Deus, vem fazer justiça e dar a recompensa. Ele próprio vem salvar-nos».
Também hoje Deus nos quer fazer isto. A todos nos podem chegar dias tristes, de fraqueza, tristeza e impotência. O advento e o Natal querem-nos assegurar que Deus está próximo, como médico e pastor. Se por acaso tivermos a tentação de desânimo, Deus está a dizer-te: «sede forte, não temas». Olha para o vosso Deus que vem em pessoa e te salvará».
Chama-nos a atenção a correspondência perfeita entre o anúncio de Isaías na primeira leitura e a resposta de Jesus no evangelho. As «obras do Messias» são as que vão atestar que é na verdade o enviado de Deus. O próprio Jesus cita Isaías para demonstrar que veio cumprir os seus anúncios proféticos.
A pergunta fundamental de João é também a nossa relativamente a Cristo: «És tu Aquele que há – de vir, ou devemos esperar outro? Uma dúvida que passados dois mil anos ainda permanece: continuamos a seguir o evangelho ou é melhor voltarmo-nos para outro lado?
João é tomado pela dúvida, como acontece alguma vez connosco. Contudo, a estima que Jesus nutre por ele não é minimamente afectada. João é o maior, embora depois seja o menor no Reino de Deus.
À dúvida de João, Jesus não responde com conceitos ou explicações, mas com uma enumeração de factos: cegos, coxos, surdos, leprosos são curados metem-se de novo a caminho, têm uma segunda oportunidade, a sua vida muda; aos pobres é anunciada a boa nova e até os mortos ressuscitam.
Onde quer que o Senhor entre e toque cura, faz florescer, muda a vida. A resposta às nossas dúvidas é simplesmente esta: se o encontro com o Senhor Jesus produz em mim frutos bons como a alegria, a coragem, a generosidade, a confiança, a abertura aos outros, a esperança, isto significa que ele é verdadeiramente Messias, e que não devemos esperar outro. Se eu não mudo não é porque ele não seja o Messias, mas porque algo falhou na minha relação com Ele.
O sinal de que os tempos messiânicos ou definitos já chegaram é que se realiza as mudanças anunciadas: Cristo cura, liberta, ressuscita. Como havia anunciado o profeta, aos que crêem e seguem Jesus é devolvida a vista aos cegos, o ouvido aos surdos, a vida aos mortos. Os sinais que Isaías havia anunciado e que Jesus cumpriu estão relacionados com as bem-aventuranças do sermão da montanha a favor dos pobres, dos que choram, dos que são perseguidos. Os sinais por excelência do messianismo de Jesus são a sua atenção aos débeis e aos pobres.
Os mesmos «sinais do Messias» que caracterizam Jesus de Nazaré são os que terão de caracterizar hoje os seus seguidores, a Igreja. Agora não vemos nem ouvimos a Cristo fisicamente nas nossas ruas, nem ele cura directamente os enfermos, nem anima pessoalmente os desanimados. Mas a sua comunidade faz o mesmo, seja cada cristão individualmente ou a comunidade cristã no seu todo, trabalham para que haja mais esperança no mundo e para que se vá curando feridas e medos.
Nós não fazemos milagres como Jesus por sermos cristãos, mas podemos dar uma mão aos desanimados e transmitir-lhes um pouco de esperança. Os melhores sinais não são as palavras nem os discursos, mas as nossas obras, tal como Jesus fez demonstrar a João. As mesmas obras que fazia Jesus.
Se à nossa volta – no nosso ambiente concreto de cada um de nós – alguns recuperam a vista, caminham animados e voltam a ouvir; se no nosso ambiente há um pouco mais de paz e de tolerância, de justiça e de acolhimento dos mais pobres, então sim que se poderá dizer que Deus está a vir e que se está a cumprir já o programa do seu Reino.
Se graças à nossa colaboração algo melhora na nossa sociedade, então está a estabelecer-se o Reino de Deus. Se os pobres podem ouvir com esperança a Boa nova da salvação, porque a vêm nas nossas obras de proximidade e misericórdia, não foi inútil o anúncio de Isaías e a vinda do Messias há tantos anos. Vamos pensar em obras visíveis, que têm a sua raiz e ambiente em mudanças de estilo de vida com mais paz, convivência e solidariedade.
Este domingo terceiro do Advento proclama a alegria, apesar do longo caminho pelo deserto que possamos estar a passar, seja pessoalmente, seja como comunidade cristã ou como humanidade. As leituras deste domingo asseguram-nos que em Cristo Jesus Deus saiu já ao encontro de todos os nossos males e se dispõe a curá-los.
São Tiago na 2ª. Leitura nos convida a não perder a esperança. Apresenta-nos dois modelos de paciência: o lavrador e o profeta. O lavrador que deixa que a terra siga os seus tempos e ritmos sem se impacientar; e os profetas do Antigo Testamento que anunciavam da parte de Deus a salvação do seu povo, mas nem sempre a viam com os seus próprios olhos a curto prazo. Eram como Josué que tinha visto a terra prometida ao longe, a tinham saudado, e, entretanto, morrera sem nela entrar.
O lavrador não se assusta se chove ou faz neve, porque compreende que são coisas que podem ser inclusivamente benéficas para o campo. Nem estranha que faça vento porque pode contribuir, com a ajuda dos abrigos, para fortalecer as suas plantas. Nem perde a compostura se não vê crescer o trigo todo rapidamente como desejava. Tem paciência. Essa paciência não é passiva nem inactiva, pois ele preparou o terreno, semeou-o, regou-o, arrancou as ervas más, isto é, fez tudo o que deveria. Como o demais não depende dele, com bom grado tem paciência.
Também nós como os profetas nem sempre vemos realizados o que cremos e queremos. Também gostávamos de recolher os frutos a curto prazo. Queríamos que o mundo novo, em desenvolvimento, paz e justiça o pudéssemos já palpar com as nossas próprios mãos e olhos. Porém, a Palavra e Deus ensina-nos a paciência, própria de quem espera, para que continuemos a trabalhar tal como o agricultor, sem angústias nem perturbação nem temor, que a alegria há-de chegar.
As leituras convidam-nos a não nos rendermos, a não desesperar, apesar dos atrasos que vemos na vinda do Reino de Deus e das obscuridades e fracassos que nos podem tentar ao desânimo.
Hoje é um domingo para crescermos na alegria e na confiança. Os tempos messiânicos e definitivos já começaram e continuam hoje na infinidade de sinais que sucedem à nossa volta se os soubermos ler e ver: em tantos actos de amor, doação e sacrifício, em tanta solidariedade humana, em tantos esforços e trabalhos pela paz e pela justiça. Contudo, fica ainda muito por fazer. Nós somos os colaboradores de Cristo para que o seu reino dê um passo adiante enquanto temos tempo.
Na certeza, porém, que o salmo nos deixa: «O Senhor é fiel para sempre, faz justiça aos que são oprimidos; dá alimento aos famintos, liberta os cativos; abre os olhos aos cegos, faz erguer o caído, ama aquele que é justo, protege o estrangeiro, ampara a viúva e o órfão. O Senhor reinará para sempre!»
Hélder, Administrador Diocesano de Angra