Igreja Paroquial de São José. Ponta Delgada. [PDF]
Iniciamos aqui, com os doentes, as Celebrações do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Sois os primeiros com quem, oficialmente, celebramos os mistérios da nossa fé. Temos os olhos no Senhor Santo Cristo dos Milagres que não foge às provações humanas e nos dá o exemplo de como nos abandonarmos na vontade de Deus sempre que os sofrimentos físicos, espirituais ou mentais nos vêm. Estamos aqui um bom grupo de sacerdotes que, em nome de Cristo, vamos ser celebrar convosco, para além da Eucaristia o sacramento da cura. Seremos instrumentos dum amor visível pela Unção dos Enfermos. Oxalá este momento seja de verdadeira festa para todos, pois Jesus coloca-se no meio de nós, mostra-nos as suas feridas, mesmo depois da ressurreição e consola-nos nas nossas fragilidades. Ele continua a propor uma vida plena, ressuscitada a cada um de nós. Reunidos em Seu nome, entremos na Palavra aqui proclamada que está carregada da ternura de Deus: “chamo-vos amigos, Não fostes vós que Me escolhestes; fui Eu que vos escolhi.” Dois pensamentos:
- Todos sabemos o que é ser doente, estar num hospital, ser operado, etc. Todos nós aí fizemos experiência dolorosa, mas também de confiança em Deus, a quem teremos, recorremos na oração e redobrámos a confiança. A doença é oportunidade, se aproveitada, para uma cura espiritual. Viver a doença, colhendo a graça de Deus que a acompanha, é segredo de uma espiritualidade iluminada pela cruz de Cristo. Na doença teremos dado conta como o Senhor esteve a nosso lado, mas também irmãos nossos nos terão ajudado e animado, desde os profissionais de saúde, voluntários, familiares, um capelão, etc. Não é fácil suportar os sofrimentos e incómodos, mas sentir-se acompanhado é uma graça, ainda mais, quando o Senhor nos prepara para a viagem definitiva até à Sua casa na eternidade. Saber acompanhar é também uma ciência.
O Evangelho fala-nos de um doente, um coxo de nascença. Pedro, juntamente com João olhou fixamente para ele e disse-lhe: «Olha para nós.» Simone Weil diz: “é o olhar que nos salva”. Pensava certamente em Jesus que olhava nos olhos, mas também em todos aqueles que sabem “olhar” fixamente o irmão sem se desligar dele, oferecendo-lhe aquilo que lhe falta, aquilo que ele faria a si mesmo se pudesse. E Pedro continua: «Não tenho ouro nem prata, mas dou-te o que tenho: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda.» Que mais queria ele ouvir? Todos podemos olhar o outro com um olhar de atenção, podemos mostrar gestos carinhosos que animam e fazem o doente sentir-se irmão, podemos testemunhar a própria fé perante os nossos próprios limites e doenças.
Temos a sorte de conhecer e rezar perante a imagem do Santo Cristo e perceber o que Ele também passou, como aceitou a vontade do Pai (Eu vim…) e tudo ofereceu pela salvação dos homens. Para nós é fácil unir as nossas às suas dores e fazer como Ele, abandonarmo-nos ao Pai e unir-nos aos irmãos. Nem todos o conseguem fazer. A nossa fé pode curá-los. Lembro-me que muitas vezes, quando tinha uma situação difícil, passava a confiá-la a doentes… Dava sempre resultado. A sua oração e sacrifício oferecidos traziam autênticos milagres… Mas, muitas vezes, perante um doente, pouco mais sei dar que não seja como eu próprio vivi as minhas situações de doença… Podemos sempre dizer: “Deus ama-me, também agora!
- Um segundo aspeto. Lembro um homem numa enfermaria de hospital, engessado. Ele tinha bloqueado o peito e um braço, o braço direito. Com o esquerdo, arranjava-se para fazer tudo… como podia. O gesso era uma tortura, mas o braço esquerdo, embora mais cansado à noite, fortalecia-se trabalhando por dois. Alguns trabalhos mais difíceis era uma senhora auxiliar que o ajudava. Completava-o! Fazer o bem faz-nos ser mais.
Somos um só corpo em Cristo, somos membros uns dos outros e o serviço mútuo é o nosso dever. Jesus não só o aconselhou, como ordenou: amai-vos uns aos outros! E a medida deste amor é alta: é o Dele. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos. Prestar serviços com amor é dar a vida pelo irmão e dar-lhe vida, ânimo, coragem. Quando servimos alguém, por amor, estamos apenas a fazer o que gostaríamos que nos fizessem. E, quando chegar a nossa hora, se precisarmos da caridade do nosso irmão, não nos sintamos humilhados. No juízo final, ouviremos Jesus repetir: «Eu era… doente… e tu me visitaste» (Mt 25, 36), eu estava preso, estava nu, tinha fome…, onde Jesus se esconde é precisamente nos que sofrem e são necessitados. Por isso, mesmo assim, agradeçamos a nossa dignidade respeitada, mas agradeçamos com grande coração àqueles que nos ajudam, reservemos o mais profundo agradecimento a Deus que criou o coração humano bom e caritativo, para Cristo que, pintando a Boa Nova com o «seu» mandamento, levou um número infinito de corações a distinguirem-se pala ajuda ao próximo.
Ó bom e amantíssimo Jesus, que por amor das nossas almas foste açoitado, coroado de espinhos e gozado no Pretório de Pilatos, dando-nos o exemplo máximo de humildade, fazei com que, atraídos pela Vossa face adorável, não tenhamos outro pensamento que não seja para Vos louvar, nem outro desejo que não seja o Vosso amor. Fazei, Senhor, com que a nossa vida seja sempre iluminada pelos clarões da Vossa Sagrada Paixão, a fim de, nas contrariedades, sentirmos a Vossa força, nas aflições, a Vossa consolação, nas dores o Vosso consolo, nas tristezas, a Vossa alegria, chegando assim intactos ao Vosso Reino Eterno. Ámen.
+ Armando, Bispo de Angra