Igreja Paroquial de Nossa Senhora de Fátima. Ponta Delgada | 1 de junho de 2023 [PDF]

Uma saudação como a de S. Paulo: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco.” Como se responderia? Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo… uma saudação que deseja o melhor do mundo: que Deus Amor, o Pai, Filho e Espírito santo nos reúna e una como estas três pessoas são e se comunicam a nós. Deus Trindade é sempre Dom de amor e de comunhão e nós podemos mergulhar neste Deus e ficar molhados, empapados do mesmo amor.

 

Estais aqui hoje, deixai que o diga, um pouco como Moisés que subiu ao monte, ao encontro com Deus que o chamava. Prestaram atenção à 1ª Leitura? Lembro o que dizia: “Moisés levantou-se muito cedo e subiu ao monte Sinai levando nas mãos as tábuas de pedra. O Senhor desceu … Moisés caiu de joelhos e disse: «Se encontrei, Senhor, aceitação a vossos olhos, dignai-vos caminhar no meio de nós”. Grande pedido! Foi direto.

 

Convido-vos a fazer como Moisés: ele levou as tábuas de pedras até Deus que nelas escreveu a Lei! surgiu o Decálogo, as 10 leis ou 10 Mandamentos. Pedi-Lhe, caros amigos, que escreva hoje no tecido do vosso ser as linhas inspiradoras da ação futura. Em vez das tábuas de pedra, trazeis as pastas e memórias agradecidas de anos, trazeis fitas assinadas com mensagens de familiares e amigos a falar do essencial: de felicidade, realização pessoal e profissional, de serviço à humanidade, de sucesso, etc. Acredito que poucas se referirão a bens materiais. Serão, antes, cheias de sonhos belos. Já escrevi muitas! Os bens mais importantes que desejamos uns aos outros são espirituais, invisíveis aos olhos. Oxalá se realizem os vossos sonhos e a esperança que em vós todos nesta hora depositam. Não percam a força desses sonhos, não deixeis que fiquem pelo caminho os ideais grandes que Deus colocou nos vossos corações jovens.

 

“Dignai-vos caminhar no meio de nós” pedia Moisés! Precisamos de avançar juntos, como comunidade, como Igreja e como sociedade, mas com Ele no meio de nós! Moisés tornou-se um instrumento de Deus, um líder reconhecido no Judaísmo, cristianismo e Islamismo. Uma figura de consensos universais, católicos. São precisos líderes respeitados e capazes de ouvir Deus e os homens, de perceber que Deus é Vida em nós. Viveis, num mundo de desafios diários a pedir um olhar jovem atento, preparado, mais límpido, mais inconformado. Até o presidente da República afirmava estes dias que os jovens devem ter um papel mais “reconhecido” e “liderante” no país, alertando para o risco de se perder um “tempo histórico”. Lutai e sede protagonistas no presente que é já o vosso futuro.

 

Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho … para que o mundo seja salvo por Ele». Nem Jesus se armou em Senhor, em dominador, em sabe tudo, mas apresentou-se como um “Enviado” a cada homem que é o objeto primeiro do Seu amor. Quem acredita, vive e é coerente com a sua fé, provoca uma revolução à sua volta, silenciosa, mas decisiva. Ser ou não cristão, não é a mesma coisa. Passará tudo, mas Deus não passará como também não passará o amor que colocarmos naquilo que fazemos.

 

Nos próximos anos o papel da inteligência artificial causará um impacto cada vez maior na nossa experiência da realidade. Já hoje máquinas trabalham e tomam decisões por nós, podem aprender e prever os nossos comportamentos, medir as nossas emoções, responder às nossas perguntas e aprender com as nossas respostas. Nessa realidade em evolução constante, há muitas perguntas a responder. Trazei-as à discussão e procurai em conjunto respostas que humanizem. Não é a tecnologia ou a ciência que está em causa. Essa fará o seu caminho. Está em causa o homem. Estou convencido que, já hoje, terá sucesso quem souber investir, desenvolver e motivar códigos éticos ou cartas de princípios nas empresas, nas teias das relações pessoais do trabalho, nos links da globalização, na produção, na economia, na ecologia, na política, na empresa ou nos negócios. Oxalá estejais entre os que farão a diferença. Urge encontrar rumos que nos obriguem, sem hipotecar a própria liberdade, a recentrar a criação em Deus e, naturalmente, no homem.

 

O Papa Francisco tem mostrado o caminho. Ensina a trabalhar juntos. Escreve os seus documentos com a participação de estudiosos e fala para todos os homens de boa vontade. Torna-se universal. Mas precisa quem concretize o seu pensamento iluminado. Vede: falou da fraternidade mundial na Encíclica “Fratelli tutti” e nasceu a chamada “Economia de Francisco” com milhares de jovens a pensar em novos rumos para uma economia mundial mais humana; falou da ecologia integral na “Laudato Sii” e lançou uma Rede mundial para a concretizar; propôs um Pacto Global sobre a Educação como única forma de valorização de pessoas e povos, etc. Estes últimos dias, surpreendeu lançando 2 desafios que, em dia de Solenidade da Santíssima Trindade, tem a ver com a Comunhão entre nós e podem servir como trabalho para casa:  A Família e presença plena nas Redes Sociais.

 

Um Pacto Global pela família, essa célula imprescindível à coesão social. Diz ele: “Grande parte dos sonhos de Deus acerca da comunidade humana realizam-se na família. Por isso, não podemos resignar-nos com o seu declínio em nome da incerteza, do individualismo e do consumismo, que anteveem um futuro de indivíduos isolados que pensam em si mesmos”.

Assim, o Papa convocou Universidades Católicas para definir programas pastorais e políticos que promovam a valorização das famílias, criar maior sinergia, nos conteúdos e objetivos, entre comunidades cristãs e universidades” e “favorecer a cultura da família e da vida na sociedade, para que surjam propostas e objetivos úteis às políticas públicas”. A família é a grande dádiva de Deus, a célula mais próxima de Deus Amor.

 

Uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais para uma presença plena. As redes sociais são parte da nossa vida; o problema é “como” estar presente. “Vivemos num ambiente digital tóxico”. “Numa época em que estamos cada vez mais divididos, em que cada pessoa se retira na sua própria bolha filtrada, as redes sociais tornam-se um caminho que leva muitos à indiferença, à polarização e ao extremismo”. Meus caros, uma mensagem é mais facilmente persuasiva quando aquele que a comunica pertence a um grupo ou comunidade. Há necessidade urgente de agir não apenas como indivíduos, mas como comunidades. O estilo cristão nas redes sociais deveria ser reflexivo, não reativo. Deveria ser ativo e sinodal. Agir em conjunto, 2 a 2, não como indivíduos. Não tanto como “influencers individuais”, mas como “tecelões de comunhão”: unindo os nossos talentos e competências, compartilhando conhecimentos e contribuições. Foi por este motivo que Jesus enviou os discípulos “2 a 2”. A forma, a atitude, o estilo, hoje, já é conteúdo. Que o digam os homens e mulheres do marketing. Usemo-lo nós também com sabedoria.

Termino com palavras do papa: “Cristo está vivo. Tudo aquilo que Ele toca torna-se jovem, faz-se novo, enche-se de vida”! “Jovens, não renuncieis ao melhor da vossa juventude, não observeis a vida de uma varanda. Não confundais a felicidade com um sofá nem passeis toda a vossa vida diante de um ecrã. Tampouco vos deveis converter no triste espetáculo de um veículo abandonado. Não sejais automóveis estacionados, pelo contrário, deixai brotar os sonhos e tomai decisões. Arriscai, mesmo que vos equivoqueis. Não sobrevivais com a alma anestesiada nem olheis o mundo como se fôsseis turistas. Fazei barulho! Deitai fora os medos que vos paralisam, para que não vos convertais em jovens mumificados. Vivei! Entregai-vos ao melhor da vida! Abri a porta da gaiola e saí a voar! Por favor, não vos aposenteis antes de tempo”. Parabéns e felicidades!

 

 

+ Armando, Bispo de Angra