Homilia de Dom António de Sousa Braga
3º do Advento 2015
(13 de Dezembro, abertura da Porta da Misericórdia)
1. É o Domingo da Alegria, que somos convidados a experimentar, na medida em que procuramos o Senhor de todo o coração. Ele veio na pobreza da gruta de Belém; virá glorioso no final dos tempos. «Ele está no meio de nós» – repetimos na Liturgia. Atravessar a Porta da Misericórdia é um gesto altamente simbólico, que nos leva ao encontro do Senhor e do Seu amor, que tem a sua máxima expressão na misericórdia. Façamos nossa a pergunta do povo a João Baptista: «Que devemos fazer»?
O profeta Sofonias (1ª leitura), exorta-nos à alegria, de diferentes maneiras, baseado na certeza de fé sobre a presença salvadora do Senhor no meio de nós: «Não temas, Sião … O Senhor, teu Deus, está no meio de ti … Exulta de alegria …»! Também S. Paulo, na Carta aos Filipenses (2ª leitura), exorta à alegria de forma repetida: «Alegrai-vos sempre. Novamente vos digo: alegrai-vos … O Senhor está próximo …».
«Ele está no meio de nós»! Pela Sua Encarnação, que comemoramos no Natal, Ele fez Se um de nós, para assumir a nossa condição humana e tornar possível a verdadeira alegria, como tantas vezes repete o Papa Francisco, ao explicar-nos o lema do Jubileu Extraordinário da Misericórdia: «Sede Misericordiosos como o Pai»!
E é a Sua palavra de ordem, já na primeira Exortação Apostólica, precisamente sobre «A Alegria do Evangelho» (2013): «Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos, a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora, marcada por esta alegria» (nº 1).
2. Portanto, para ser «Misericordiosos como o Pai», é preciso olhar para Cristo. Como muito bem explica o Papa Francisco, «Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai … O Pai ‘rico em misericórdia’ (Ef 2, 4), depois de ter revelado o Seu nome a Moisés, como ‘Deus misericordioso e clemente, vagaroso na ira, cheio de bondade e fidelidade’ (Ex 34, 6), não cessou de dar a conhecer, de vários modos e em muitos momentos da história, a Sua natureza divina.
«’Na plenitude do tempo’ (Gal 4,4), quando tudo estava pronto, segundo o Seu plano de salvação, mandou o Seu Filho, nascido da Virgem Maria, para nos revelar, de modo definitivo, o Seu amor. .. Quem O vê, vê o Pai (cf Jo 14, 9). Com a Sua palavra, os Seus gestos e toda a Sua pessoa, Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus …
«Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, de serenidade e de paz. É condição da nossa salvação… Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai. Foi por isso que proclamei – explicita o Papa Francisco – um Jubileu Extraordinário da Misericórdia, como tempo favorável para a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes …
«Neste Ano Jubilar, que a Igreja se faça eco da Palavra de Deus que ressoa, forte e convincente, como uma palavra e um gesto de perdão, apoio, ajuda, amor. Que ela nunca se canse de oferecer misericórdia e seja sempre paciente a confortar e perdoar …» (Papa Francisco, Bula de Promulgação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (BJEM, 11 de Abril de 2015).
3. « ‘A Porta Santa’ é um símbolo muito expressivo. Se, por um lado, permite a entrada …, também é a abertura por onde se sai para o mundo, ambiente onde o cristão tece habitualmente a sua existência e que deve fermentar com a verdade do Evangelho … Na Festa da Imaculada Conceição – explicita o Santo Padre – terei a alegria de abrir a Porta Santa (como de facto aconteceu na Basílica de S. Pedro e hoje na Sé Catedral de Angra, conforme as orientações do Papa). Será, pois, uma Porta da Misericórdia, onde qualquer pessoa que entre poderá experimentar o amor de Deus, que consola, perdoa e dá esperança.
«No Domingo seguinte – continua o Papa -o 3º Domingo do Advento, abrir-se-á a Porta Santa na Catedral de Roma, a Basílica de S. João de Latrão. E em seguida será aberta a Porta Santa nas outras Basílicas Papais. Estabeleço – determina o Santo Padre – que no mesmo Domingo, em cada Igreja Particular -na Catedral, que é a Igreja-Mãe para todos os fiéis, ou na Concatedral, ou então numa Igreja de significado especial – se abra igualmente, durante todo o Ano Santo, uma Porta da Misericórdia. Por opção do Ordinário, a mesma poderá ser aberta nos Santuários» (BJEM).
Eis o sentido e o forte simbolismo da nossa entrada na Sé Catedral pela Porta da Misericórdia, para deixar entrar na nossa vida o Deus-Amor, amor que tem a sua máxima expressão na misericórdia. Como muito bem explica o Papa Francisco,
«Misericórdia é a palavra que muda tudo: muda o mundo. Um pouco de misericórdia toma o mundo menos frio e mais justo …
«Misericórdia é o caminho que une Deus e o ser humano, porque abre o coração à esperança de ser amados para sempre, não obstante os limites do nosso pecado. Hoje (como nunca) é tempo de misericórdia: as situações de miséria e de conflito são para Deus ocasiões de misericórdia – prossegue o Papa, exortando: voltemos para o Senhor! Ele nunca se cansa de nos perdoar…».
+António, Bispo de Angra
Sé Catedral, 13 de Dezembro de 2015.