«Evangelizar pelo testemunho»

         Completam-se este ano 400 anos do martírio do Beato João Baptista Machado, padroeiro da nossa diocese de Angra.

Nascido e baptizado em Angra, em 1580, ingressou na Companhia de Jesus e foi ordenado sacerdote em Goa. Enviado para o Japão juntamente com outros companheiros, aí receberia a coroa do martírio a 22 de Maio de 1617, sendo beatificado pelo Papa Pio IX, em 1867.

Sendo o padroeiro da diocese de Angra, torna-se não apenas intercessor mas também modelo de santidade, a primeira e universal vocação de todos os cristãos. Na verdade, o Concilio Vaticano II afirma que «todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade» (LG, 39).

A comunidade diocesana tem como primeira vocação o chamamento à santidade. Pela oração, escuta da Palavra de Deus, participação comunitária na Eucaristia e celebração dos demais sacramentos, pela partilha fraterna e pelo testemunho evangélico, os baptizados caminham na santidade porque vivem a comunhão com Cristo e com os irmãos.

Mas estamos também perante um mártir. Num contexto concreto e num tempo determinado, foi desafiado acerca da verdade da fé em Jesus Cristo. Não hesitou, tal era a sua convicção que nasceu do encontro de vida com Cristo, de tal modo que aceitou a prova mais sublime da verdade em que assenta a sua fé, oferecendo-se em sacrifício, no martírio, unido à Páscoa de Jesus Cristo.

O Beato João Baptista Machado foi enviado para o Japão em missão evangelizadora.  Realmente, evangelizar em profundidade exige a comunhão de vida com Cristo que se alcança pela santidade e pela entrega total, mesmo chegando ao martírio.

Maravilhoso exemplo que deve estar vivo na nossa comunidade diocesana. Somos «comunidade de discípulos missionários», no dizer do Papa Francisco. Pertence-nos a nós, hoje, impulsionar uma evangelização profunda do mundo onde vivemos.

O exemplo do nosso Padroeiro deve despertar-nos para as condições da evangelização que nos interpela a um autêntico itinerário de santidade e á entrega total de cada um de nós.

Como refere o Papa Paulo VI, «será pois, pelo seu comportamento, pela sua vida, que a Igreja há de, antes de mais nada, evangelizar este mundo; ou seja, pelo seu testemunho vivido com fidelidade ao Senhor Jesus, testemunho de pobreza, de desapego e de liberdade frente aos poderes deste mundo; numa palavra, testemunho de santidade» (EN, 41).

A par com uma atitude de acção de graças ao Senhor por tantos irmãos nossos que no tempo actual continuam a ser testemunhas de Cristo através do martírio, desejo expressar o meu reconhecimento por tantos cristãos que se entregam a Cristo, em caminhada de santificação das suas vidas e na oferta dos seus sofrimentos para a evangelização da nossa diocese.

Mas, é dever de todos os cristãos, baptizados e discípulos de Jesus Cristo, descobrirem o chamamento do Mestre à missão, mesmo que esta comporte marcas martirizantes.

São eloquentes as palavras do Papa Francisco dizendo que «todos somos chamados a dar aos outros o testemunho explícito do amor salvífico do Senhor, que, sem olhar às nossas imperfeições, nos oferece a sua proximidade, a sua Palavra, a sua força, e dá sentido à nossa vida» (EG, 121).

Vivamos em profundidade as celebrações jubilares do nosso padroeiro e deixemo-nos interpelar pelo testemunho da sua vida.

Imploro do Beato João Baptista Machado para toda a nossa diocese as suas bênçãos e a sua protecção.

 

Angra, do Heroísmo, 7 de Maio de 2017

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores