Matriz da Praia da Vitória.

Neste domingo da Santissima Trindade reunimo-nos na celebração da Eucaristia para dar graças a Deus por 500 anos da dedicação desta Igreja Matriz da Paróquia da Praia da Vitória.

É uma oportunidade para relacionarmos a Comunhão divina que tem a sua fonte no Pai e que nos foi revelada no Filho e vive em nós através do Espirito Santo com a Comunhão eclesial que cada comunidade cristã é chamada a viver como fundamento de todo o seu ser e do seu agir.

Deus é amor. Verdade nunca suficientemente aprofundada e sempre necessitada de experiência vivencial.

O amor possui um dinamismo de comunicação e de relação interpessoal que nos ajuda a penetrar no mistério de Deus que se revela em Deus Pai, Filho e Espirito Santo.

Lembremos a pedagogia que nos é apresentada por S. João quando nos diz que «o que nós vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco. E nós estamos em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo» (1Jo. 1, 3).  E, ainda numa outra passagem nos exorta dizendo «amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor» (1Jo. 4, 7-8).

Segundo a reflexão Conciliar do Vaticano II, a Igreja é apresentada como Mistério de comunhão que se alicerça na Comunhão de Deus Pai, Filho e Espirito Santo e deve configurar-se como comunidade que vive a comunhão em todos os seus membros e assume a missão da Igreja na participação e corresponsabilidade de todos os baptizados, discípulos de Jesus Cristo.

Moisés, tal como nos refere a primeira leitura, orou ao Senhor suplicando-Lhe que se digne caminhar no meio de nós. Com a revelação definitiva de Deus feita no Seu Filho Jesus de Nazaré, esta caminhada de Deus no meio da humanidade é feita por Cristo enviado pelo Pai não para condenar o mundo mas para que ele seja salvo por Seu intermédio.

Somos testemunhas da verdade de Deus se vivermos na relação de partilha e de doacção que a comunidade cristã proporciona de modo que o amor de Deus se torna visível aos olhos do mundo de tal forma que crie o espanto e admiração em todos aqueles que se interrogam sobre o sentido profundo da vida humana e o horizonte para onde deve caminhar a sociedade.

Viver a comunhão divina na experiência comunitária oferece a experiência da alegria e anima-nos a trabalhar na perfeição pessoal em ordem á unidade. Daí a advertência de S. Paulo «saudai-vos uns aos outros com o ósculo da paz».

S. João Paulo II olhando para este novo milénio afirma que «Jesus é o “homem novo” (cf. Ef 4,24; Col 3,10), que convida a humanidade redimida a participar da sua vida divina». E, acrescenta que «no mistério da encarnação encontram-se as bases para uma antropologia capaz de ultrapassar os seus próprios limites e contradições, caminhando para o próprio Deus, antes, para a meta da “divinização”, pela inserção em Cristo do homem resgatado, admitido à intimidade da vida trinitária» (NMI, 23).

Daí o convite a edificar comunidades que sejam a casa e a escola da comunhão. Diz o Papa que este é o grande desafio se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo.

Isto significa que antes de programarmos qualquer acção é preciso promover uma espiritualidade de comunhão «elevando-a ao nível de princípio educativo em todos os lugares onde se plasma o homem e o cristão, onde se educam os ministros do altar, os consagrados, os agentes pastorais, onde se constroem as famílias e as comunidades». E, ainda, «espiritualidade da comunhão significa em primeiro lugar ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade, que habita em nós e cuja luz há-de ser percebida também no rosto dos irmãos que estão ao nosso redor».

Não tenhamos ilusões, acrescenta ainda o Santo Padre «sem esta caminhada espiritual, de pouco servirão os instrumentos exteriores da comunhão». Porque se revelariam mais como estruturas sem alma, máscaras de comunhão, do que como vias para a sua expressão e crescimento» (NMI, 43).

Voltemo-nos, agora, para os desafios que nos são lançados pela celebração jubilar desta Igreja Matriz.

O primeiro é de acção de Graças pela construção de uma comunidade cristã que ao longo destes cinco séculos se foi edificando, escutando a Palavra do Evangelho, celebrando os mistérios da Fé e propondo-se responder ao apelo de Jesus a levar o Evangelho ao mundo.

Mas dando graças a Deus pelos que nos precederam, urge o compromisso de todos e de cada um de nós na vida renovada da comunidade cristã que auscultando os sinais dos tempos e orientada pelo Evangelho descobre os caminhos de evangelização para o mundo de hoje.

Na verdade, ser cristão exige a consciência de pertencer a uma comunidade que se distingue pela vivência da comunhão eclesial e testemunha perante o mundo a Vida Nova de Jesus Cristo; comunidade que vive e se edifica na celebração da Eucaristia. Importa consciencializar todos os baptizados que faz parte integrante do ser cristão a pertença a uma comunidade cristã, na qual se partilha a vida em Cristo, e se reconhece a sua edificação a partir da participação na Eucaristia.

O Papa Francisco define a Igreja como «a comunidade de discípulos missionários». Uma bela e oportuna síntese muito simples e compreensível mas com árduo esforço para se alcançar a verdadeira identidade cristã.

Alicerçados numa tão bela história de 500 anos de vida desta paróquia e reconhecendo como ao longo do tempo Jesus Cristo chamou tantos homens e mulheres a configurarem a própria vida com a Sua vida, somos nós hoje chamados a reconhecer que a vida cristã parte e integra em si mesma o chamamento de Jesus Cristo dirigido a cada um e a exigir uma resposta intima ao Seu apelo. Sem este dinamismo vivido por cada baptizado a fé cristã deixa de ter o encanto e a beleza que ela mesma possui.

Mas igualmente, faz parte do ser cristão a resposta missionária. Ser cristão é ser missionário. Cada um, segundo a condição da própria vida e nos locais que lhe são próprios, é chamado a ser testemunha de Jesus Cristo na Igreja e no mundo.

Coloquemos o nosso olhar no futuro, com confiança e com esperança e lancemo-nos na edificação de uma verdadeira comunidade cristã que reflicta em si mesma a Vida de Cristo e a Sua salvação.

Imploramos de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores, colocados com Ela sob a protecção da Santa Cruz, que abençoe esta paróquia da Matriz da Praia da Vitória, as suas famílias, crianças, idosos, jovens, adultos, emigrados, os que sofrem e os que vivem exclusão social, económica e religiosa e nos encaminhe pelas sendas da evangelização do mundo de hoje.

Amen

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e das Ilhas dos Açores

 

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