Combater a indiferença para promover a paz.
No dia primeiro do ano, a Igreja celebra a maternidade divina de Nossa Senhora e, a partir do Concilio Vaticano II, dedica este mesmo dia à reflexão, à oração e ao compromisso pela paz.
O Papa valoriza este dia através da mensagem que ano após ano oferece ao mundo para ajudar à reflexão sobre os caminhos que poderão levar à paz.
Como normalmente o texto da referida mensagem se insere nas grandes preocupações da Igreja, neste ano da misericórdia, o Papa Francisco realça esta atitude, critério de vida e de relação a par com o respeito pela natureza e apelando para o combate à indiferença.
Tendo por titulo «vence a indiferença e conquista a paz», o Santo Padre não só se coloca numa das mais trágicas consequências da cultura moderna e pos-moderna, mas reforça o apelo que fez com os olhos postos na tragédia humana de Lampedusa onde apelidou esta cultura caracterizada pela «globalização da indiferença».
Tal como já tinha feito o Papa Bento XVI, o Papa Francisco relaciona a indiferença perante Deus com o alheamento em relação aos irmãos. Neste sentido refere que «a primeira forma de indiferença na sociedade humana é a indiferença para com Deus, da qual deriva também a indiferença para com o próximo e a criação» (nº3).
Se Deus está comprometido com a humanidade e com a criação obra do Seu amor, também o ser humano deve estar seriamente empenhado na sorte dos seus semelhantes.
No texto da mensagem deparamo-nos com um forte alerta às instituições para que também elas não cedam à tentação «da indiferença pelo outro, pela sua dignidade, pelos seus direitos fundamentais e pela sua liberdade, de braço dado com uma cultura orientada para o lucro e o hedonismo, favorece e às vezes justifica acções e políticas que acabam por constituir ameaças à paz» (nº 4).
E no que toca ao domínio económico refere que «este comportamento de indiferença pode chegar inclusivamente a justificar algumas políticas económicas deploráveis, precursoras de injustiças, divisões e violências, que visam a consecução do bem-estar próprio ou o da nação» (nº 4).
Mas a indiferença toca também a ecologia que, segundo as palavras do Papa, «favorecendo o desflorestamento, a poluição e as catástrofes naturais que desenraízam comunidades inteiras do seu ambiente de vida, constrangendo-as à precariedade e à insegurança, cria novas pobrezas, novas situações de injustiça com consequências muitas vezes desastrosas em termos de segurança e paz social» (nº 4).
Em pleno ano da misericórdia, O Papa Francisco relembra alguns dos seus apelos lançados na Bula da sua promulgação. Diz ele que «onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai». Concretamente, «nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia» (nº 5).
Também no que diz respeito à promoção da paz, a misericórdia vivida como olhar o outro como irmão é fundamental para uma justa e pacifica convivência.
Apelando ao compromisso de todos os educadores, família, escola, comunidade cristã e instituições sócio-culturais e poderes públicos para a edificação da paz, realça que a paz resulta do compromisso pela cultura da solidariedade, da misericórdia e da compaixão. Neste âmbito o Papa louva as inúmeras iniciativas que partem do empenho de famílias, de jovens, de grupos, de jornalistas e outros homens e mulheres da comunicação social.
Assim, perante a ameaça da globalização da indiferença, brotam acções que «no cenário acima descrito, inserem-se também numerosas iniciativas e acções positivas que testemunham a compaixão, a misericórdia e a solidariedade de que o homem é capaz» (nº 7).
Dentro do espirito do ano da misericórdia, o Santo Padre convida cada um a reconhecer «como se manifesta a indiferença na sua vida e a adoptar um compromisso concreto que contribua para melhorar a realidade onde vive, a começar pela própria família, a vizinhança ou o ambiente de trabalho»; e dirige um tríplice apelo que diz o seguinte: «apelo a abster-se de arrastar os outros povos para conflitos ou guerras que destroem não só as suas riquezas materiais, culturais e sociais, mas também – e por longo tempo – a sua integridade moral e espiritual; apelo ao cancelamento ou gestão sustentável da dívida internacional dos Estados mais pobres; apelo à adopção de políticas de cooperação que, em vez de submeter à ditadura dalgumas ideologias, sejam respeitadoras dos valores das populações locais e, de maneira nenhuma, lesem o direito fundamental e inalienável dos nascituros à vida» (nº 8).
Esta mensagem exige uma atenção especial de todos e cada um, seja cristão, crente, ou cidadão neste mundo tão carente de paz, e um compromisso comum pela sua promoção.
Que Nossa Senhora Mãe de Deus e Nossa Mãe nos abençoe, sobretudos os mais marginalizados e desprezados, e nos conduza pelos caminhos da verdadeira paz.
+João Lavrador
Bispo Coadjutor de Angra