Igreja Paroquial Nossa Senhora de Fátima. Ponta Delgada.
«A paz esteja convosco». Esta expressão que Jesus dirige aos seus Apóstolos é a mesma que nos dirige a cada um de nós, hoje, num mundo tão sedento de paz.
Por isso, esta saudação está relacionada com o envio que Jesus de Nazaré faz dos seus discípulos. «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós»; eis o mandato que nos compromete a nós que olhamos o mundo em que vivemos a necessitar de gestos de renovação e de humanização; sem dúvida que fazer a experiência de Jesus Cristo ressuscitado exige a experiência de ser enviado ao encontro de todos os que esperam uma palavra ou um gesto de libertação.
A acompanhar a palavra, Jesus exprime um gesto que relaciona a experiência da vida nova do Ressuscitado com a criação. Diz o texto evangélico que Jesus Cristo «soprou sobre eles». Na verdade, no Livro do Génesis, no relato da criação, Deus sopra sobre o barro para inspirar o espirito sobre a matéria e fazer surgir a pessoa humana.
Na linguagem de S. João, Jesus Cristo, com a mesma autoridade do Pai, através da Sua Ressurreição destruiu o pecado e o mal que vitimavam a criação e pela acção do Espirito Santo cria uma nova criação. Os Apóstolos são os primeiros desta nova criação que terão o encargo de ir ao encontro do mundo e testemunhar-lhe o caminho para alcançar o sonho da humanidade e o desejo de Deus de reconstruir o paraiso.
Gesto profundo e significativo que temos por obrigação meditar e assumir como compromisso para a nossa vida pessoal e comunitária e é de uma forte implicação para a transformação e renovação de mundo.
Mas a Palavra de Deus deste domingo vai mais além e convida-nos a saborear a Vida Nova do Ressuscitado em comunidade cristã. Mais ainda, a comunidade é fundamental e necessária para se fazer a experiência de Jesus Cristo Vivo. Exemplo disto mesmo é o relato do itinerário da fé de Tomé que só acredita verdadeiramente quando está no interior da comunidade dos Apóstolos e se encontra pessoalmente com Jesus Cristo.
Acresce ainda o facto de estarmos perante o dinamismo de uma comunidade cristã que celebra o domingo, o primeiro dia da semana e, como refere a leitura dos Actos dos Apóstolos, partilha dos dons de cada um para o bem de todos.
Podemos assim afirmar com S.Paulo que pela ressurreição de Jesus Cristo entre os mortos renasceu em nós uma esperança viva, fez-nos participantes de uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece. Isto é motivo de grande alegria.
A figura de Tomé é paradigmática do itinerário necessário para responder às inquietações do ser humano e sobretudo à perguntas essenciais que a razão humana coloca. Muitas vezes obcecada pelo imediato e pelo sensível, exige-se uma abertura para o mistério que se abre perante a inteligência humana através da Palavra Revelada e pelos sinais que manifestam a presença de Cristo no meio do mundo.
O local próprio para fazer esta experiência de Vida Nova está na comunidade cristã.
Caros finalistas que hoje vindes aqui para agradecer o vosso curso académico e implorar as bênçãos de Deus para o futuro da vossa carreira profissional.
Ninguém ignora a sociedade e a cultura que vos espera e os problemas que as caracterizam. Está nas vossas mãos, no vosso empenho e nos vossos sonhos transformá-las.
O mundo vive uma fase nova da sua história na qual não é possível repetir modelos do passado. Contudo, buscar as raízes sólidas que caracterizam a nossa identidade é necessário para construir o futuro em segurança e dotá-lo de verdadeiro humanismo.
Impera hoje o materialismo, a indiferença, o sucesso a todo o custo e o individualismo. Vive-se uma ética de ocasião e regulada por interesses individuais. Está em causa o verdadeiro humanismo que não assente em fundamentos sólidos para a vida pessoal, comunitária e social.
Vivemos na superficialidade dos factos e nas manifestações epidérmicas dos acontecimentos sem capacidade de discernimento e de espirito critico.
Na verdade, o importante é a pessoa humana atendendo a todas as suas faculdades.
Coloca-se perante vós o desafio de construirdes uma sociedade mais justa e pacifica, mais humana e integradora, mais acolhedora e participativa.
Pertence-vos a vós introduzirdes no vosso modo de actuar profissionalmente a atitude de serviço e a defesa dos mais débeis e marginalizados.
O Papa Francisco, no seu discurso nas Nações Unidas, em 2015, sublinhava, num dado passo: «a casa comum de todos os homens deve continuar a erguer-se sobre uma recta compreensão da fraternidade universal e sobre o respeito pela sacralidade de cada vida humana, de cada homem e de cada mulher»; e acrescentava que «tal compreensão e respeito exigem um grau superior de sabedoria, que aceite a transcendência, própria de cada um, renuncie à construção duma elite omnipotente e entenda que o sentido pleno da vida individual e colectiva está no serviço desinteressado aos outros e no uso prudente e respeitoso da criação para o bem comum».
Sim, os homens e mulheres do nosso tempo esperam muito de vós. A ciência, a técnica e a sabedoria que fostes acumulando ao longo do vosso curso académico exige a continuidade na formação e na auscultação dos problemas que afectam a humanidade de hoje para que, através do vosso empenho e esforço, alcancem a plena realização.
Imploro de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores, que vos abençoe a vós, aos vossos familiares, professores e vos faça saborear a alegria do bem que ireis construir através da vossa profissão.
Amen
+João Lavrador, Bispo de Angra e das Ilhas dos Açores
23 de Abril 2017