Sé Catedral.

O domingo de Ramos celebra a entrada de Jesus de Nazaré em Jerusalém no meio da aclamação do povo, evocando-o como o filho de David e dirigindo-Lhe a exclamação de Hossana!

Este é o lugar que culmina o percurso terreno de Jesus. Desde Belém onde nasceu, passando pela Galileia onde viveu parte da Sua vida e onde iniciou o anuncio da chegada do Reino de Deus, percorrendo toda a Palestina, chega finalmente a Jerusalém onde se manifestará a sua perfeita entrega ao Pai pela Salvação da humanidade.

Enquanto se dirigia para Jerusalém, dizem-nos os Evangelhos, purificou as intenções dos seus discípulos sobre os seus critérios de messianismo. Enquanto que para eles o messias seria à maneira dos poderes do mundo, Jesus de Nazaré apresenta-se como Aquele que vai dar a vida, vai ser entregue, morrerá e por fim ressuscitará.

Este caminho é o mesmo que deve ser percorrido pelos seus seguidores. Por isso, diz-lhes Jesus: «quem quiser ser meu discípulo, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me» (Mc. 8, 34).

Na verdade é dirigida para nós hoje a palavra do profeta Isaías que nos foi proclamada na primeira leitura e sublinhando que «Ele desperta os meus ouvidos, para eu escutar como escutam os discípulos»; e continua dizendo que «O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo».

Eis o convite que nos provoca no nosso ser de baptizados e por isso discípulos de Jesus de Nazaré, comungando com Ele da Sua vida e com Ele queremos percorrer o mesmo caminho de amor e de entrega que leva ao encontro de Deus Pai e dos nossos irmãos.

Porque se carregamos as dores e os sofrimentos, as atrocidades e a ignominia do mundo, como realça o profeta, «Deus veio em meu auxilio, por isso não ficarei envergonhado» e sei que não ficarei desiludido.

No meio de sofrimento e perplexidade que nos vem da situação actual que aflige a humanidade em todos os lugares do mundo, estamos a iniciar esta semana na qual vivemos os mistérios centrais da nossa fé para mergulharmos o nosso ser, todo inteiro, na entrega de Jesus Cristo, para dEle absorvermos a Vida plena e total que faça brotar a alegria de tal modo que nos impulsione para a missão de anunciar a Jesus Cristo Salvador de todos os homens.

Neste caminho contemplamos o mistério de Cristo. O abaixamento que nos é descrito por S. Paulo na Carta Filipenses ajuda-nos não só a descobrirmos a Jesus Cristo o Filho de Deus, real e tal como se revelou entre nós, mas também a proporcionar-nos a pedagogia própria para a missão evangelizadora.

Tal como Jesus Cristo, também nós somos chamados a colocarmo-nos no abaixamento das situações degradantes da pessoa humana, comungando do sofrimento dos nossos irmãos, para lhes manifestar com a nossa entrega e pela nossa esperança, o amor infinito e reconciliador de Deus.

Como discípulos que desejam escutar, com o olhar colocado no mistério de Jesus de Nazaré que ansiamos por contemplar, na busca do conhecimento verdadeiro sobre a revelação que Jesus Cristo faz de Si mesmo, a liturgia deste domingo coloca-nos perante a longa descrição do caminho da entrega, da paixão, do calvário, da morte na esperança da ressurreição de Jesus de Nazaré.

Este é caminho para o qual somos convidados a entrar e a percorrer. Não estamos perante uma encenação ou um espectáculo, muito pelo contrário, é o itinerário de Jesus de Nazaré que se encontra com toda a humanidade, desafiando a todos e carregando sobre si os sofrimentos, as exclusões, as amarguras, as injustiças e os clamores do homem ao longo da história.

Na verdade, este ano não podemos separar este caminho do sofrimento que experimenta a população mundial a requerer gestos de amor, de partilha e de despojamento para aliviar a dor de quem sofre, mas igualmente a sabedoria necessária para auscultarmos o querer de Deus presente nestes sinais tão dramáticos.

Este é caminho que nos faz encontrar o Deus verdadeiro revelado em Jesus de Nazaré, o Seu Filho. Este é o itinerário pelo qual Deus, através da entrega do Seu Filho, vem ao encontro da humanidade para lhe oferecer a salvação, a redenção e a comunhão com Ele.

Este é o caminho do amor que não se descobre tão só através do exercício racional ou de longe projectando as nossas dúvidas, não, ele, porque é caminho de amor exige a coragem para nos lançarmos na sua experiência. Temos de nos colocar nele, a exemplo de Nossa Senhora, das santas mulheres, do Cireneu, de Verónica e nele sentir a força para levarmos a este mundo de hoje a Boa Nova da Salvação.

Imploramos de Nossa Senhora das Dores que nos ajude a percorrer o caminho da entrega do Seu Filho como discípulos e a alcançar d’Ele a misericórdia e a reconciliação para nós e para o mundo de hoje envolto em trevas e dor.

Amen

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores