Paroquial de São Pedro. Ribeirinha.

«Eu sou o Bom Pastor». Eis a belíssima expressão que escutámos no Evangelho e que é proferida por Jesus de Nazaré para manifestar a riqueza do Seu amor pelas pessoas qualquer que seja a sua situação ou relação com Ele. Esta proclamação que revela o coração de Jesus Cristo oferece uma força abrangente para toda a procura humana. Por isso ele afirma que é o Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas, mas diz também que tem outras ovelhas que ainda não pertencem ao Seu redil e que necessita de as procurar e conduzir para que haja um só rebanho e um só Pastor.

Igualmente significativa e desafiante é a distinção que faz entre o Bom Pastor e os salteadores. O Bom Pastor conhece as suas ovelhas, elas conhecem a Sua voz e Ele dá a vida por elas. Já o salteador despreza as suas ovelhas e apodera-se delas e quando ameaçadas foge.

Esta imagem do Bom Pastor é de tal modo expressiva e significativa que ela desafia a Igreja em todo o seu ser e na sua actuação. Cada um dos baptizados não se reconhece tão só como rebanho que conhece o Bom Pastor e se sente acarinhado por Ele, mas igualmente transporta em si as marcas do Bom Pastor que o envia a realizar a missão de testemunhar a Boa Noticia da Salvação com os mesmos traços do Bom Pastor.

É neste contexto que escutamos a primeira leitura, na qual nos deparamos com um episódio de cura por intermédio dos Apóstolos. Aí verificamos a força salvífica que Jesus Cristo continua a exercer através do Povo de Deus a quem Ele chama a ser continuador da Sua missão de Salvação, mas a clarividência de que o poder de restituir a dignidade mais fundamental de cada ser humano não pertence a qualquer pessoa mas tão só a Jesus Cristo.

Tal como aconteceu a Pedro, também o mundo de hoje, fascinado pelas conquistas da ciência e da técnica e desfazado da sua relação com Deus, questiona a acção da Igreja e da comunidade cristã sobre o seu poder de transformar o mundo e a sociedade.

Importa ter a lucidez necessária para, como Pedro, afirmar que a autêntica transformação e a respectiva realização profunda do ser humano, são operadas com a cooperação do homem, da sua inteligência e pela sua criatividade, mas não se realiza sem a actuação de Jesus Cristo presente na história dos homens através da acção do Seu Espirito.

Por isso, importa proclamar com coragem, sem medo dos obstáculos que se colocam hoje à mensagem do Evangelho, perante tantas mentes obscurecidas e corações atrofiados, que não há outro salvador que não seja Jesus Cristo.

Na verdade, como exclama S. João, somos filhos de Deus. Tal facto deve encher-nos de alegria e entusiasmo, provocar em nós o sentido de admiração e de compromisso para progredirmos ainda mais na comunhão com este mistério da revelação de Deus que se traduz também na manifestação da nossa profunda identidade que é fruto de um processo de tarefa pessoal de purificação mas sobretudo da actuação da Graça divina.

Também neste contexto, novamente somos convidados a reconhecer a diferença entre aqueles que aceitam a manifestação de Deus revelado em Jesus Cristo, o Seu Filho e o mundo que não conhece a Deus e por isso também não reconhece o discípulo, baptizado, e como tal filho de Deus.

Eis a lucidez com que devemos olhar-nos a nós mesmos, com humildade, com simplicidade e abertura para o mistério da revelação de Deus, mas também como devemos aceitar a realidade do mundo, conhecendo-o, amando-o para o transformar.

Celebramos também neste domingo a Jornada de Oração pelas Vocações. Permitam-me referir uma passagem da mensagem do Papa Francisco para este ano, onde sublinha que «também nestes nossos agitados tempos, o mistério da Encarnação lembra-nos que Deus não cessa jamais de vir ao nosso encontro: é Deus connosco, acompanha-nos ao longo das estradas por vezes poeirentas da nossa vida e, sabendo da nossa pungente nostalgia de amor e felicidade, chama-nos à alegria».

E, acrescenta realçando que «na diversidade e especificidade de cada vocação, pessoal e eclesial, trata-se de escutar, discernir e viver esta Palavra que nos chama do Alto e, ao mesmo tempo que nos permite pôr a render os nossos talentos, faz de nós também instrumentos de salvação no mundo e orienta-nos para a plenitude da felicidade».

Eis caríssimo Fábio, tu que te apresentas para receberes o ministério de acólito no contexto da tua caminhada para uma entrega progressiva e total ao serviço de Deus e da Sua Igreja, és para nós o sinal vivo de como deve a comunidade cristã, em todos os seus membros, saborear a relação com Jesus Cristo o Bom Pastor e traduzir na prática da vida os Seus traços em ordem a transformar o mundo em que vivemos.

Este passo que hoje recebe a bênção de Deus, deve traduzir-se para ti e para a Igreja diocesana num convite a caminharem na edificação de comunidades inteiramente ministeriais.

Como afirma o Concilio Vaticano II: «Espírito Santo não só santifica e conduz o Povo de Deus por meio dos sacramentos e ministérios e o adorna com virtudes, mas “distribuindo a cada um os seus dons como lhe apraz” (1 Cor. 12,11), distribui também graças especiais entre os fiéis de todas as classes, as quais os tornam aptos e dispostos a tomar diversas obras e encargos, proveitosos para a renovação e cada vez mais ampla edificação da Igreja, segundo aquelas palavras: “a cada qual se concede a manifestação do Espírito em ordem ao bem comum” (1 Cor. 12,7)» (LG, 12).

Mas são sobretudo eloquentes e interpeladoras as palavras de S. João Paulo II sublinhando que «os ministérios presentes e operantes na Igreja são todos, embora de diferentes modalidades, uma participação no mesmo ministério de Jesus Cristo, o bom Pastor que dá a vida pelas Suas ovelhas (cf. Jo 10, 11), o servo humilde e totalmente sacrificado para a salvação de todos (cf. Mc 10, 45)»(ChL, 21).

A Igreja, mistério de comunhão, no qual radicam os carismas e ministérios, exige por vontade do Seu Fundador, Jesus de Nazaré, que todos os seus membros reconheçam o serviço que lhes compete na edificação da comunidade cristã, no testemunho evangélico e na missão de servir a pessoa e a sociedade.

Mais uma vez, quero sublinhar a urgência de caminharmos decididamente na edificação de uma Igreja Diocesana a viver a comunhão e na promoção de todos os ministérios e serviços para corresponder à vontade divina e para tornar eficaz a obra evangelizadora da Igreja.

Caro Fábio, agora que te aproximas mais do altar da Eucaristia e dos demais sacramentos, caminha também mais na intimidade com Jesus Cristo o Bom Pastor que dá a vida pelas Suas ovelhas, colhe no teu coração o maravilhoso mistério que se realiza no altar e torna-te membro activo de uma comunidade que no altar e na Eucaristia se alimenta e se dispõe a servir à maneira de Jesus Cristo que veio para servir e não para ser servido, privilegiando os mais pobres e marginalizados.

Imploro de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores, a mulher do sim total, que te acolha no seu regaço e que te encaminhe pelas sendas do serviço e do despojamento e te ajude a saborear a alegria do serviço aos irmãos.

 

Amen

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores