Rhode Island. São Francisco Xavier.

A Palavra do Senhor que escutámos convida-nos a saborear o mais essencial da nossa fé e que se manifesta no chamamento de Jesus Cristo a cada um dos seus discípulos.

 

Esta página do Evangelho na qual se enumeram os nomes dos Apóstolos que seguiram a Jesus Cristo na primeira hora e as recomendações que o Mestre lhes oferece são modelo para todos nós baptizados e, por isso, discípulos de Cristo.

Começa o texto evangélico por retractar uma verdade de todos os tempos ao afirmar que Jesus ao ver as multidões, encheu-se de compaixão por elas porque eram como ovelhas sem pastor. Mais ainda, descreve-as como fatigadas e abatidas.

Quem não reconhecerá esta realidade na cultura actual que desafia tão fortemente os cristãos a uma coerência de vida e quem não se sente abatido e fatigado perante as perplexidades, desalentos e frustrações que lhe advém da sociedade de hoje?

Deste modo, o convite que nos é dirigido é para voltarmos o nosso olhar e o nosso coração para Jesus de Nazaré que na sua misericórdia e na sua ternura cuida de nós.

Mas o mesmo texto evangélico provoca em nós um convite à missão. Na verdade cada cristão é chamado por Jesus Cristo para a missão na Igreja e no mundo.

Daí o desafio a deixarmo-nos encontrar por Jesus de Nazaré e na comunhão de vida com Ele deixar ressoar o Seu chamamento no nosso intimo para O tornarmos presente na cultura e na sociedade de hoje.

O próprio Jesus que nos entrega todo o Seu poder oferece-nos as prioridades a atender quando diz que  devemos ir em primeiro lugar às ovelhas perdidas.

Na actualidade o Papa Francisco tem alertado a Igreja para a sua responsabilidade em ir ao encontro dos mais excluídos. Diz ele que a comunidade cristã deve sair  para se deslocar ao encontro das periferias existenciais.

O anuncio de que somos portadores é o Reino de Deus. Isto é, esta presença de Deus no meio do Seu povo que se realiza pela acção do Espirito Santo.

Realmente o Espirito de Deus está no mundo a conduzi-lo no meio de contradições e perplexidades para o encontro com Deus. Nós somos sinais deste Reino que alerta a sociedade para que todas as pessoas reconheçam Aquele que as marcou na criação e as redime pela Redenção.

Eis a exigência da nossa caminhada, pregar que está próximo o Reino dos Céus.

Isto só acontecerá quando formos portadores da mesma Palavra Salvadora de Jesus Cristo e realizarmos os mesmos gestos libertadores que Ele mesmo realizou.

Celebramos a festa de S. Francisco Xavier, Apóstolo das Indias. Em tempos contorvados e muito difíceis para a sociedade e para a Igreja, este santo escutou o chamamento divino e movido pela paixão em anunciar a Jesus cristo no meio de povos que não O conheciam dedicou a maior parte da sua obra evangelizadora no Oriente.

Cada santo é sempre modelo para os cristãos. Em primeiro lugar pela docilidade ao chamamento e à missão que Jesus cristo desperta em todos os baptizados; em segundo, pela sua vida toda ela orientada pela fidelidade a Deus e no amor aos irmãos; e por último pelo seu grande desejo de santidade imitando a Jesus Cristo na Sua vida e na Sua missão.

S. Paulo na segunda leitura que escutámos mostra-nos o caminho para a santidade. Apesar das nossas limitações e do nosso pecado, fomos reconciliados em Jesus Cristo que ofereceu a Sua vida por nós.

O Concilio Vaticano II refere que o chamamento primeiro lançado a todos os baptizados é a vocação à santidade. Mais ainda, só os verdadeiros santos são autênticos evangelizadores.

S. João Paulo II dizia que «não hesito em dizer que o horizonte para que deve tender todo o caminho pastoral é a santidade»(NMI, 30). Mais ainda, continua o Papa «na verdade, colocar a programação pastoral sob o signo da santidade é uma opção carregada de consequências»(NOMI, 31).

Ajudados por tantas testemunhas de santidade como S. Francisco Xavier, podemos afirmar que «é hora de propor de novo a todos, com convicção, esta “medida alta” da vida cristã ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direcção» (NMI, 31).

Deste modo podemos compreender como dirigidas a nós as palavras da primeira leitura que dizem: «vós sereis para Mim um reino de sacerdotes, uma nação consagrada».

Caros cristãos nestas comunidades cristãs de Providence, venho comungar da vossa fé e edificar-me com a vossa comunhão com Deus e uns com os outros.

A vossa fé simples, enraizada na vossa vida familiar e alimentada na oração e na vivência comunitária da eucaristia são testemunho da vossa vitalidade e da vossa força evangelizadora.

Mas venho também em atitude de gratidão pela vossa partilha com a nossa Igreja de Angra e Ilhas dos Açores. A partilha enriquece-nos sempre. Somos sempre grandes quando partilhamos.

Por altura da Páscoa enviei-vos uma mensagem na qual descrevia a Diocese na qual tenho a missão e a alegria de servir.

Certamente descobristes as muitas necessidades por que passa a população dos Açores e as dificuldades que a Diocese e as suas estruturas têm para responder a todas as necessidades nos diversos domínios da sua acção.

Fica-me a minha gratidão. Muito obrigado, pela vossa generosidade. Que o Senhor recompense a vossa generosidade.

Imploro de Nossa Senhora e de S. Francisco Xavier que vos abençoem, de modo particular aos que mais necessitam das suas graças e bênçãos.

Amen.

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores