Matriz de Santa Cruz. Flores.
«Assim como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova». Esta expressão de S. Paulo que ele dirige à Comunidade de Roma é o mesmo desafio que nos é lançado hoje pela Palavra de Deus e pelo exemplo de generosidade e de resposta ao apelo de Jesus Cristo do Diácono Jacob que irá ser ordenado de Presbítero para a nossa Igreja diocesana.
O encontro com Jesus Cristo Ressuscitado desperta uma alegria tal que nos leva a responder ao Seu convite a segui-Lo e desperta em cada discípulo o desejo de assumir a missão de Cristo na Igreja e no mundo.
Chamado e enviado a ser testemunha da alegria autêntica e profunda que só da comunhão com Jesus Cristo poderá surgir.
Na verdade estamos hoje a contemplar o verdadeiro caminho para viver a alegria que ninguém poderá tirar porque brota do encontro único com Jesus Cristo que se manifesta no jubilo em todos aqueles que escutam a Sua voz e O seguem.
Só penetrando no chamamento de Jesus Cristo e na correspondente alegria e realização pessoal poderemos entender o convite a viver intensamente a ternura divina como o fundamento de todo o amor experienciado pelas Suas criaturas. Daí a exigência que nos é lançada no Evangelho quando nos diz que «quem não toma a sua cruz para Me seguir, não é digno de Mim».
Para nos ajudar a compreender o sentido da cruz, o texto evangélico refere que Jesus Cristo é o fundamento do amor, da entrega, do despojamento e da partilha dos dons pessoais com os demais para uma verdadeira experiência de amor donde brota a plenitude da vida.
Na primeira leitura, a presença do profeta Eliseu em casa de um casal de Sunam leva a senhora a exclamar «estou convencida de que este homem, que passa frequentemente pela nossa casa, é um santo homem de Deus». Está já a profetizar a encarnação de Jesus Cristo e a Sua hospitalidade no meio da humanidade mas está também a abrir o horizonte de cada um dos Seus discípulos que à imagem do Mestre é chamado a encarnar as situações do Povo a que é dirigido, a fazer-se hospede no meio das dificuldades e perturbações que vivem os seus contemporâneos para os despertar para a vida nova que sempre surge na abertura para Deus.
Carissimo Jacob estás a comprometer-te inteiramente com Jesus Cristo que te convida e te envia a seres hoje no meio dos homens e mulheres testemunha da verdadeira alegria que brota da vida nova do Ressuscitado. O teu estilo de vida, os critérios e os valores que nortearão a tua entrega permanente a Deus e aos irmãos contrastam com os do mundo, por isso exigem uma fundamentação radical na comunhão diária com Jesus Cristo.
Daí o desafio a deixares-te envolver pelo essencial que nos é apresentado no Evangelho pela Cruz sinal do amor sem limites, da entrega generosa, pelo despojamento voluntário e na partilha pessoal, imitando a Jesus Cristo que veio para servir e não para ser servido.
Vais ser testemunha do amor que recebe a única luz do Ressuscitado que só é compreensível pela inteligência iluminada pelo Espirito Santo.
Assume o convite que nos é lançado pela Palavra de Deus que nos exorta a ser homem de Deus. Caminha numa experiência de Deus alimentada pela oração, pelos sacramentos, pela meditação da Palavra, pela contemplação e pela inteligência da fé que te transforme em Alguém que faz pensar em Deus e que a tua acção pastoral seja de ajudar as pessoas a chegar a Deus.
Inserido no meio do Povo de Deus escuta os seus clamores e as suas necessidades para te tornares em guia autêntico a abrir o caminho que leva a saborear a vida nova que brota do encontro com Deus e que através da tua palavra e dos teus gestos se abram horizontes novos àqueles que se aproximam de ti para se encontrarem com Jesus Cristo.
A Igreja sente-se hoje interpelada a viver na sua vida a pureza do Evangelho e a despojar-se de muitos apegos que ao longo da história dificultaram o saborear a integridade do Evangelho. Este mesmo apelo está prioritariamente dirigida aos sacerdotes que configurados a Jesus Cristo são chamados a viver no mundo de hoje o Seu estilo de vida.
Na fidelidade, na pobreza, na castidade e na obediência és chamado a ser testemunha de Jesus Cristo no mundo que necessita de ser questionado pelos exemplos vivos que abrem os caminhos novos para o encontro com Deus.
S. Paulo ilustra esta maneira de viver dos discípulos quando diz que seguindo o exemplo de Cristo, «considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus».
Ainda há poucos meses, o Papa Francisco, na celebração de ordenações de presbíteros alertava para que as suas vidas fossem motivo de alegria, de amparo aos fiéis e também para o perfume das suas vidas, porque a palavra sem o exemplo da vida para nada serve, é melhor voltar atrás. E, acrescentava que «mediante o vosso ministério, o sacrifício espiritual dos irmãos é tornado perfeito, porque unido ao sacrifício de Cristo, que pelas vossas mãos, em nome de toda a Igreja, é oferecido de modo incruento sobre o altar na celebração dos Santos Mistérios».
Tomo das suas palavras para te dizer a ti Jacob imita o que celebras para que, participando no mistério da morte e ressurreição do Senhor, leves a morte de Cristo nos teus membros e caminhes com Ele em novidade de vida. Como afirma o Santo Padre, «um presbítero que talvez tenha estudado muita teologia e obtido um, dois, três diplomas mas não aprendeu a carregar a Cruz de Cristo, não serve». E, conclui, «será um bom académico, um bom professor, mas não um sacerdote».
Faz do teu sacerdócio um permanente hino jubiloso de alegria, «com a alegria do serviço de Cristo, até no meio dos sofrimentos, das incompreensões, dos próprios pecados» (Papa Francisco, homilia 7 de Maio 2017).
Procura ter sempre diante dos teus olhos o exemplo do Bom Pastor, que não veio para ser servido mas para servir.
O primeiro de todos os serviços é a promoção da comunhão entre todos os baptizados. Nunca te canses de viver e de edificar a comunhão junto dos teus irmãos no presbitério e junto dos fiéis leigos.
Servir a Igreja é proporcionar a participação de todos os baptizados despertando carismas e valorizando os ministérios.
Enfim, servir é colocar-se junto de toda a pessoa para que, a exemplo de Jesus Cristo, caminhar com ela despertando-lhe as suas capacidades que lhe assegurarão a sua promoção e a sua dignidade.
Imploro de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores, que te abençoe e te acompanhe no teu ministério sacerdotal.
Ámen.
+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores