Sé Catedral. Angra.
A ressurreição de Jesus Cristo marca o primeiro dia da semana. É precisamente neste dia que um conjunto de amigos e discípulos fazem a experiência do ressuscitado. Tal como eles, também nós hoje, amigos e discípulos de Jesus Cristo fazemos a mesma experiência de Jesus Cristo Vivo que dá sentido à nossa existência e se revela como o Senhor.
O Evangelho que escutámos e que nos narra a primeira experiência de relação com o Ressuscitado, é fundamental para que cada um de nós e cada comunidade cristã possam percorrer o itinerário para que continuamente, ao longo da história, nos encontremos com Jesus Cristo ressuscitado.
Estamos perante um movimento de saída de si mesmo para ir ao encontro de alguém, deparamo-nos com um conjunto de sinais que nos alertam para a novidade do que está acontecer e a iluminação da fé para realçar todo o significado da experiência que leva à verdade da ressurreição de Jesus Cristo.
Mas a realidade que fundamenta todo este caminho que conduz à experiência com o Ressuscitado é a relação de amor com Jesus Cristo que brota da convivência com Ele.
A primeira indicação que sobressai da Palavra é a referência a Maria de Magdala que foi ao sepulcro e viu a pedra retirada; por sua vez, Pedro e João, alertados por ela, que correu ao seu encontro, partem em direcção ao sepulcro; João chega primeiro mas não entra, enquanto Pedro entra e observa todos os sinais que revelam a identidade de Jesus Cristo e manifestam que Aquele que esteve ali, agora já não está; por fim João entra, viu e acreditou.
Estamos perante o itinerário da fé que ilumina os sinais e que das realidades visíveis descobre a presença do Invisivel que através deles Se revela.
Também nós hoje somos conduzidos pela Palavra ao sepulcro vazio onde observamos todos os sinais históricos da morte de Jesus de Nazaré. Contudo, através do encontro que gera o despojamento de nós mesmos para nos deixarmos iluminar pela presença do Espirito de Deus que orienta a nossa inteligência e a une à fé, somos orientados para a experiência do Ressuscitado.
Mas nesta experiência é fundamental a partilha comunitária. Ela está bem evidente no relato da vivência própria de cada uma das pessoas que se depara com a surpresa do Ressuscitado. A narração da experiência pessoal de como Jesus Cristo se revela vivo a cada um e a sua partilha com os irmãos é imprescindivel para a participação pessoal na vida nova do Ressuscitado.
Daí o convite a viver segundo a Vida Nova que nos vem pela comunhão com Jesus Cristo Ressuscitado que segundo as palavras de S. Paulo consiste em aspirar à coisas do alto já que morremos com Cristo para também com Ele vivermos. Deste modo, a glória de Cristo manifestar-se-á em nós.
Recordemos as palavras do Papa Francisco que nos convidam à esperança. Diz ele que «também nós, como Pedro e as mulheres, não podemos encontrar a vida, permanecendo tristes e sem esperança e permanecendo aprisionados em nós mesmos». Por isso, «abramos ao Senhor os nossos sepulcros selados – cada um de nós os conhece -, para que Jesus entre e dê vida; levemos-Lhe as pedras dos ressentimentos e os penedos do passado, as rochas pesadas das fraquezas e das quedas». Porque «Ele deseja vir e tomar-nos pela mão, para nos tirar para fora da angústia» (homilia da vigilia pascal, 2016).
O fundamento da esperança cristã está em Jesus Cristo Vivo e Ressuscitado porque ela «é um dom que Deus nos concede, se sairmos de nós mesmos e nos abrirmos a Ele». Na verdade, esta esperança não decepciona porque o Espírito Santo foi infundido nos nossos corações (cf. Rm 5, 5)».
Reconhecemos que «o Consolador não faz com que tudo apareça bonito, não elimina o mal com a varinha mágica, mas infunde a verdadeira força da vida, que não é a ausência de problemas, mas a certeza de sermos sempre amados e perdoados por Cristo, que por nós venceu o pecado, venceu a morte, venceu o medo»(ib.).
Todo o itinerário que conduz ao encontro de Jesus de Nazaré que se revela Vivo, convida a entrar no Mistério de todos os Mistérios. E, como afirma o Papa Francisco, entrar no mistério «significa capacidade de estupefacção, de contemplação; capacidade de escutar o silêncio e ouvir o sussurro de um fio de silêncio sonoro em que Deus nos fala (cf. 1 Re 19, 12); ou ainda, «requer de nós que não tenhamos medo da realidade: não nos fechemos em nós mesmos, não fujamos perante aquilo que não entendemos, não fechemos os olhos diante dos problemas, não os neguemos, não eliminemos as questões…»(homilia da Vigilia Pascal, 2015).
Mas é também a coragem de «ir além da comodidade das próprias seguranças, além da preguiça e da indiferença que nos paralisam, e pôr-se à procura da verdade, da beleza e do amor, buscar um sentido não óbvio, uma resposta não banal para as questões que põem em crise a nossa fé, a nossa lealdade e nossa razão» (ib.).
Por isso, para entrar no Mistério «é preciso humildade, a humildade de rebaixar-se, de descer do pedestal do meu eu tão orgulhoso, da nossa presunção; a humildade de se reajustar, reconhecendo o que realmente somos: criaturas, com valores e defeitos, pecadores necessitados de perdão» (Ib.). Mais ainda, «é preciso este abaixamento que é impotência, esvaziamento das próprias idolatrias, adoração». Sem dúvida, «sem adorar, não se pode entrar no mistério» (ib.).
Jesus Cristo está vivo! Que bela mensagem e que profunda experiência no meio de uma cultura de morte e de uma sociedade fechada em si mesma. Urge proclamar a esperança que não desilude.
Somos chamados a anunciar o Ressuscitado com palavras e através dos gestos do amor e da partilha.
Na primeira leitura, Pedro no discurso à multidão, referindo-se à Ressurreição de Jesus de Nazaré afirma que «nós somos testemunhas».
Na verdade, o mundo de hoje necessita de testemunhas credíveis da ressurreição de Jesus Cristo. Daqueles que fazem uma verdadeira experiência da Vida Nova do Ressuscitado e que a partilhem pelo anuncio e pelos gestos no seio na sociedade concreta onde vivem «para suscitar e ressuscitar a esperança nos corações pesados de tristeza, em quem sente dificuldade para encontrar a luz da vida» (ib.).
Na verdade, «Jesus é o «homem novo» (cf. Ef 4,24; Col 3,10), que convida a humanidade redimida a participar da sua vida divina» (NMI, 23).
Agora é para Cristo ressuscitado que a Igreja volta o seu olhar. «Passados dois mil anos destes acontecimentos, a Igreja revive-os como se tivessem sucedido hoje». Sem dúvida, «no rosto de Cristo, ela — a Esposa — contempla o seu tesouro, a sua alegria». E, deste modo, «confortada por esta experiência revigoradora, a Igreja retoma agora o seu caminho para anunciar Cristo ao mundo» (NMI, 28).
Imploramos de Nossa Senhora, Mãe Rainha dos Açores, que se alegrou com a Ressurreição do Seu Filho que derrame a sua bênção sobre todos nós incluindo os que vivem na diáspora para que vivamos com alegria, intensidade e generosidade a missão que brota da Ressureição de Jesus Cristo.
Para todos uma santa e feliz Páscoa.
Amen
+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores