Sé Catedral. Angra.
Ressoa nesta noite a mesma mensagem que pela primeira vez o Anjo dirigiu às mulheres que se encaminhavam para o sepulcro. Diz-lhes ele: «Vós não tenhais medo; eu sei que procurais Jesus, o Crucificado. Não está aqui: ressuscitou».
Após o percurso através da Palavra de Deus que nos integrou no itinerário do povo da Promessa, desde a criação, passando pelos grandes momentos em que Deus se revelou e acompanhou este mesmo Povo, até à revelação definitiva em Jesus Cristo, eis-nos perante a maior de todas as novidades da história da humanidade. O Filho de Deus que encarnou na nossa humanidade e que assumiu a nossa sorte, passando pelo sofrimento e pela morte, está vivo.
Esta é a novidade que exige ser vivida e ser proclamada. Todas as esperanças da humanidade de hoje só se poderão dirigir para este local e contemplar Aquele que dá razão à nossa existência porque na Sua Ressurreição destrói o sofrimento e a morte. A salvação chegou e está ao alcance da pessoa humana.
S. Paulo na Carta aos Romanos que acabámos de escutar apresenta-nos o itinerário para viver e participar neste Mistério de Jesus Cristo. Começa por afirmar que «todos nós que fomos baptizados em Jesus Cristo, fomos baptizados na Sua morte». E, mais ainda, «assim como Cristo ressuscitou dos mortos, por meio da glória do Pai, também nós caminhamos numa vida nova».
Esta noite, toda ela é dedicada ao baptismo porque, realmente a experiência da passagem da morte para a vida dá-se nas fontes do baptismo. Nessas águas mergulhámos o homem velho, seduzido pelo mundo, sujeito ao pecado e á morte e ressurgimos pessoa nova, aberta à comunidade, partilhando dos dons pessoais com os demais irmãos e celebrando a alegria com Cristo ressuscitado através do gesto da Ceia Pascal.
Daí a exortação de S. Paulo que a exemplo de Jesus Cristo nos convida a Viver a Vida Nova de Jesus Cristo Ressuscitado dizendo «considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus».
Caros cristãos, o mundo continua a ter necessidade do testemunho desta Vida Nova em Cristo e ele só poderá atingir a nossa sociedade e a cultura actual através de nós que mergulhamos neste mistério que se realizou em Cristo e n’Ele continua a realizar-se em cada um dos Seus discípulos.
Daí que esta noite tem a marca da missão. Na linguagem do Evangelho, o Anjo convidou as mulheres a irem depressa dizer aos seus discípulos: «Ele ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a Galileia. Lá o vereis».
Verdadeiramente o imperativo do envio faz parte integrante da experiência da Ressurreição. Por isso, partir de nós próprios, deslocarmos das nossas amarras e dos nossos interesses, ir ao encontro do irmão que nos espera para se alegrar com o anuncio da Ressurreição, são condições necessárias para viver a Vida Nova do Ressuscitado.
É precisamente no meio dos irmãos, no mundo com as suas complexidades e dramas, participando numa cultura que necessita do fermento do Evangelho que nos encontramos com Jesus Cristo Vivo. Tal como refere o texto do Evangelho: «Lá o vereis».
Porque Ele caminha à nossa frente não devemos ter medo de assumirmos a missão de testemunhar a Jesus Cristo perante os nossos contemporâneos. Esta é a primeira de todas as convicções que teremos de sedimentar em nós. Na verdade Jesus Cristo vai à nossa frente, de modo que as dificuldades e perplexidades com se depara o discípulo não poderão ofuscar a consciência da presença vivificante e impulsionadora do Mestre.
Fixemos as palavras do Papa Francisco que nos interpelam dizendo que «Ele deseja vir e tomar-nos pela mão, para nos tirar para fora da angústia». E, acrescenta sublinhando que «a primeira pedra a fazer rolar para o lado nesta noite é esta: a falta de esperança, que nos fecha em nós mesmos». E, ainda, «o Senhor nos livre desta terrível armadilha: sermos cristãos sem esperança, que vivem como se o Senhor não tivesse ressuscitado e o centro da vida fossem os nossos problemas» (homilia da Vigilia Pascal 2016).
Em Cristo ressuscitado vivemos a maior de todas as nossas esperanças. Hoje celebramos a esperança que ninguém nos poderá tirar.
Voltemos ao Papa Francisco que nos refere o seguinte: «o Senhor está vivo e quer ser procurado entre os vivos. Depois de O ter encontrado, cada um é enviado por Ele para levar o anúncio da Páscoa, para suscitar e ressuscitar a esperança nos corações pesados de tristeza, em quem sente dificuldade para encontrar a luz da vida». E, acrescenta realçando que «há tanta necessidade disto hoje. Esquecendo de nós mesmos, como servos jubilosos da esperança, somos chamados a anunciar o Ressuscitado com a vida e através do amor» (Ib.).
Com o testemunho autêntico de quem se encontrou com a Vida Nova do Ressuscitado o mundo despertará para o horizonte desejado mas ainda não alcançado e a humanidade de hoje reconhecerá que só à luz da páscoa de Jesus Cristo se poderá edificar o homem novo tão sonhado por todos os povos e nações.
Imploramos de Nossa Senhora, Mãe Rainha dos Açores, que se alegrou com a Ressurreição do Seu Filho que derrame a sua bênção sobre todos nós os que vivemos no território açoriano e os que vivem na diáspora, a todos sem exclusão, para que vivamos com alegria, intensidade e generosidade a missão que brota da Ressurreição de Jesus Cristo.
Ámen
+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores