Povoação.
Com esta celebração damos inicio às comemorações do centenário da Ouvidoria da Povoação. Fazemo-lo em pleno ano da Misericórdia, quase a terminar o ano dedicado aos Consagrados e na despedida da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima desta nossa Ouvidoria.
Somos motivados pela gratidão e reconhecimento pelas graças que Deus, fonte de toda a Misericórdia, derramou sobre todos os que fizeram parte desta Ouvidoria, sacerdotes, consagrados, leigos, crianças, jovens, famílias, adultos e idosos.
Porém, somos interpelados no presente a construir uma comunidade cristã na centralidade de Jesus Cristo, na partilha pastoral, na comunhão e na correspondabilidade de todos os baptizados, numa renovação constante que o Espirito Santo provoca na Igreja, tal como o Concilio Vaticano II exige das comunidades cristãs.
Orientamo-nos num futuro de esperança que nos vem da confiança no amor misericordioso de Deus revelado em Jesus Cristo e acompanhado pela intercessão da Virgem Nossa Senhora.
Escutámos na primeira leitura do Profeta Isaias o sonho do profeta de que o povo que andava nas trevas viu uma grande luz. Como nos diz o Concilio Vaticano II a luz dos povos é Cristo. Mas, a Igreja em Cristo é o sinal ou instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano.
Por isso, cada comunidade cristã e cada cristão devem saber auscultar os sinais que neste mundo exigem o testemunho da luz de Jesus Cristo e através de um testemunho verdadeiro de fé torná-la presente no meio da sociedade.
Nas palavras do profeta reconhecemos que Deus quer retirar toda a opressão do meio dos povos. Eis, a responsabilidade dos discípulos de Jesus Cristo em tudo fazer para transformar evangelicamente o mundo onde vivem.
Deste modo compreendemos o alcance da mensagem do Evangelho que dirige o nosso olhar para Nossa Senhora e d’Ela aprende a condição sublime de ser discípulo que cumpre a Palavra de Deus. Realmente a vida cristã é cumprimento, é activa, desenvolve-se e expressa-se na entrega total de cada um a Deus e aos irmãos.
A devoção autêntica a Maria de Nazaré orienta-nos sempre para o compromisso com o Evangelho, para a descoberta constante da nossa condição de discípulos de Jesus Cristo, para a missão que cada baptizado é chamado a desenvolver na Igreja e no mundo.
Chamados a fazer a experiência de Deus sentimos que esta só é possível numa comunidade na qual partilhamos os nossos dons e capacidades.
A vivência comunitária, alicerçada na Eucaristia, é essencial no desenvolvimento da experiência cristã. Na verdade, na celebração da Eucaristia, Jesus Cristo dá-se na Sua Palavra e oferece-se no Seu Corpo e Sangue. Alimentados pelo mesmo Corpo de Cristo formamos um outro Corpo, o Corpo Eclesial, a Comunidade Cristã, com o mesmo estilo de Jesus que não é outro que dar-se inteiramente para que os irmãos tenham vida e a tenham em abundância.
A Ouvidoria é espaço de partilha, de coordenação, de comunhão e corresponsabilidade entre paróquias. Temos de continuar a valorizar o espaço evangelizador que é a Ouvidoria.
Pode-se afirmar da Ouvidoria o que o Papa Francisco nos diz acerca da paróquia e da sua renovação, quando realça que «a paróquia é presença eclesial no território, âmbito para a escuta da Palavra, o crescimento da vida cristã, o diálogo, o anúncio, a caridade generosa, a adoração e a celebração». De tal modo que «através de todas as suas actividades, a paróquia incentiva e forma os seus membros para serem agentes da evangelização». Para uma verdadeira renovação deve entender-se que «é comunidade de comunidades, santuário onde os sedentos vão beber para continuarem a caminhar, e centro de constante envio missionário».
Mas também denuncia o Santo Padre que «o apelo à revisão e renovação das paróquias ainda não deu suficientemente fruto, tornando-as ainda mais próximas das pessoas, sendo âmbitos de viva comunhão e participação e orientando-as completamente para a missão» (EG. 28).
Hoje, as nossas comunidades cristãs, integradas e animadas na Ouvidoria, devem desenvolver em si o estilo missionário. Fortemente enraizadas em Cristo, desenvolvendo os ministérios e serviços em todos os cristãos baptizados, alimentadas na Eucaristia, iluminadas pela Palavra de Deus, fortalecidas pela oração, abrem-se à acção no meio da sociedade.
Convida-nos o Papa Francisco a uma pastoral de cariz missionário. Diz ele que «quando se assume um objectivo pastoral e um estilo missionário, que chegue realmente a todos sem excepções nem exclusões, o anúncio concentra-se no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário». Deste modo, «a proposta acaba simplificada, sem com isso perder profundidade e verdade, e assim se torna mais convincente e radiosa» (EG. 35).
Para que se edifiquem comunidades renovadas segundo o ímpeto conciliar torna-se necessário criar as condições para que Jesus Cristo possa encontrar ambiente para chamar e receber a resposta concreta de cada um. Isto é, exige-se uma verdadeira pastoral vocacional que integre todos, paróquia, famílias, jovens, crianças, e aberta a todas as vocações, matrimónio, sacerdócio, vida consagrada.
Celebramos os cem anos desta Ouvidoria com os olhar de esperança. Para os cristãos comprometidos com Deus e com os irmãos, o seu futuro só pode ser de esperança e de alegria.
Conscientes que «a alegria do Evangelho é tal que nada e ninguém no-la poderá tirar (cf. Jo 16, 22)», apesar das múltiplas dificuldades com que se depara a acção evangelizadora, inspirados pelo exemplo de Nossa Senhora, somos convidados a uma atitude de esperança.
Na sensação de deserto, como descreve o Papa Francisco, a atitude do cristão «embora com a dolorosa consciência das próprias fraquezas, há que seguir em frente, sem se dar por vencido, e recordar o que disse o Senhor a São Paulo: “Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza” (2 Cor 12, 9)» (EG, 85).
Da consciência viva de que «o triunfo cristão é sempre uma cruz, mas cruz que é, simultaneamente, estandarte de vitória, que se empunha com ternura batalhadora contra as investidas do mal» (EG, 85), nasce a força alicerçada na confiança no amor misericordioso de Deus e acompanhados pela presença reconfortante da Mãe de Jesus e nossa Mãe que nos lança na aliciante tarefa de evangelização.
Caros cristãos desta Ouvidoria da Povoação, em acção de graças ao Senhor por tantos dons que recebemos, fortaleçamo-nos na esperança, caminhemos na edificação de comunidades cristãs a viver a comunhão e a sentirem-se responsáveis pelo testemunho evangélico no meio do mundo; comunidades abertas à missão que nasce da Eucaristia e que empenha a todos os seus membros.
Termino implorando de Nossa Senhora de Fátima que nos deu a honra da sua visita e que certamente nos cativou pela Sua mensagem que abençoe as nossas famílias, os nossos jovens, crianças, doentes e idosos; que Nossa Senhora Mãe e Rainha dos Açores estenda o Seu olhar maternal para com os marginalizados e excluídos, para os que vivem na diáspora e experimentam a provação e nos acompanhe pelos caminhos que levam à evangelização do mundo de hoje.
Amen
+João Lavrador
Bispo Coadjutor de Angra e Ilhas