«Cristo Ressuscitou! Aleluia! Aleluia!»
A ressurreição de Jesus de Nazaré é o facto mais inaudito da história da humanidade, que interpela o ser humano no seu ser, nos seus projectos, na sua ânsia de vida em plenitude e na sua inteligência.
O Sofrimento e a morte não têm a última palavra, muito pelo contrário, a vida vivida no amor, na entrega e na doacção é reassumida em vida nova que nos faz experienciar a plenitude do nosso ser.
A ressurreição de Jesus Cristo marca o primeiro dia da semana. É precisamente neste dia que um conjunto de amigos e discípulos fazem a experiência do ressuscitado. Tal como eles, também nós hoje, somos convidados a fazer a mesma experiência de Jesus Cristo Vivo que dá sentido à nossa existência e se revela como o Senhor da história e do mundo.
As narrações evangélicas do encontro com o Ressuscitado são fundamentais para que cada um de nós e cada comunidade cristã e mesmo cada pessoa possam encontrar o itinerário para que continuamente, ao longo da história, nos encontremos com Jesus Cristo ressuscitado.
Estamos perante um movimento de saída de si mesmo para ir ao encontro de alguém, deparamo-nos com um conjunto de sinais que nos alertam para a novidade do que está acontecer e a iluminação da fé e da inteligência para realçar todo o significado da experiência que leva à verdade da ressurreição de Jesus Cristo. Mas a realidade que fundamenta todo este caminho que conduz à experiência com o Ressuscitado é a relação de amor com Jesus Cristo que brota da convivência com Ele.
A fé aclara e abre a inteligência. Na ressurreição deparamo-nos com o itinerário da fé que ilumina os sinais e que das realidades visíveis descobre a presença do Invisível que através deles Se revela.
Também nós hoje somos conduzidos pela Palavra ao sepulcro vazio onde observamos todos os sinais históricos da morte de Jesus de Nazaré; mas através do encontro que gera o despojamento de nós mesmos para nos deixarmos iluminar pela presença do Espirito de Deus que orienta a nossa inteligência e a une à fé, somos conduzidos até à experiência do Ressuscitado.
Mas nesta experiência é fundamental a partilha comunitária. Daí o convite a viver segundo a Vida Nova que nos vem pela comunhão com Jesus Cristo Ressuscitado partilhando-a com os nossos irmãos oferecendo o sentido novo às suas vidas.
Todo o itinerário que conduz ao encontro de Jesus de Nazaré que se revela Vivo, convida a entrar no Mistério de todos os Mistérios. E, como afirma o Papa Francisco, entrar no mistério «significa capacidade de estupefacção, de contemplação; capacidade de escutar o silêncio e ouvir o sussurro de um fio de silêncio sonoro em que Deus nos fala (cf. 1 Re 19, 12); ou ainda, «requer de nós que não tenhamos medo da realidade: não nos fechemos em nós mesmos, não fujamos perante aquilo que não entendemos, não fechemos os olhos diante dos problemas, não os neguemos, não eliminemos as questões…» (homilia da Vigília Pascal, 2015).
Mas é também a coragem de «ir além da comodidade das próprias seguranças, além da preguiça e da indiferença que nos paralisam, e pôr-se à procura da verdade, da beleza e do amor, buscar um sentido não óbvio, uma resposta não banal para as questões que põem em crise a nossa fé, a nossa lealdade e nossa razão» (ib.).
Por isso, para entrar no Mistério «é preciso humildade, a humildade de rebaixar-se, de descer do pedestal do meu eu tão orgulhoso, da nossa presunção; a humildade de se reajustar, reconhecendo o que realmente somos: criaturas, com valores e defeitos, pecadores necessitados de perdão» (Ib.). Mais ainda, «é preciso este abaixamento que é impotência, esvaziamento das próprias idolatrias, adoração». Sem dúvida, «sem adorar, não se pode entrar no mistério» (ib.).
Jesus Cristo está vivo! Que bela mensagem e que profunda experiência no meio de uma cultura de morte e de uma sociedade fechada em si mesma. Urge proclamar a esperança que não desilude.
Somos chamados a anunciar o Ressuscitado com palavras e através dos gestos do amor e da partilha.
Na verdade, «Jesus é o “homem novo” (cf. Ef 4,24; Col 3,10), que convida a humanidade redimida a participar da sua vida divina» (NMI, 23).
Agora é para Cristo ressuscitado que a Igreja volta o seu olhar. «Passados dois mil anos destes acontecimentos, a Igreja revive-os como se tivessem sucedido hoje». Sem dúvida, «no rosto de Cristo, ela — a Esposa — contempla o seu tesouro, a sua alegria». E, deste modo, «confortada por esta experiência revigoradora, a Igreja retoma agora o seu caminho para anunciar Cristo ao mundo» (NMI, 28).
Na experiência de Jesus Cristo Ressuscitado, expresso os meus votos de Santa e Feliz Páscoa, de modo especial para as crianças, os jovens, os emigrados, as famílias, os doentes e idosos, os presos e para todos os excluídos e marginalizados da nossa sociedade.
+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores