Angra.

A Diocese de Angra, através do seu Administrador Diocesano, manifesta o seu pesar pela morte do querido papa Bento XVI, ocorrida esta manhã.

À primeira vista parecia um homem conservador, mas na verdade trata-se de um papa muito atual, atento às questões da atualidade. Disposto ao diálogo com a modernidade, a razão, a investigação, a cultura, a ciência, a universidade, a intelectualidade e o estudo, sobretudo com a filosofia, a teologia e as religiões do nosso tempo.

Curiosamente conheci o professor Joseph Ratzinger em 1986, no curso de teologia no Seminário Episcopal de Angra através da sua obra «Escatologia, a morte e a vida eterna», que dedica aos seus alunos de Ratisbona 1969-1977, cadeira de Teologia dogmática que era lecionada pelo saudoso professor Dr. José Soares Nunes. Depois, no jubileu do ano 2000, conheci pessoalmente o Cardeal Ratzinger numa conferência em Roma, precisamente sobre o mesmo tema, que lhe era tão caro e transmitia com tal convicção e clareza admiráveis, o que certamente lhe dará luz nesta hora de partida deste mundo para a vida eterna.

A sua eleição em 2005 para bispo de Roma coincide com a minha nomeação para vigário geral da Diocese de Angra. Nessa condição, ajudei a preparar os relatórios para as visitas ad sacra limina apostólica de D. António Sousa Braga, então Bispo de Angra, a Bento XVI, nos anos de 2007 e 2015. Tive a oportunidade de encontrar Sua Santidade num encontro com os agentes e organizações da pastoral social em Fátima e de concelebrar a Eucaristia no Terreiro do Paço em Lisboa em maio de 2010.

Não sendo um papa dos afetos, é o papa da fé e da razão, afirmando que se esta faltasse a religião facilmente poderia desviar-se para o fundamentalismo cego. A sua preocupação era sempre o anúncio da beleza do evangelho no mundo contemporâneo, sobretudo aos jovens.  Entre o papa João Paulo II e o Papa Francisco, «a peça» é a mesma, Jesus Cristo vivo.  Se João Paulo II fazia a música, Bento XVI compunha a letra e Francisco faz uma inaudita execução.

Convido as paróquias da diocese de Angra a dobrarem hoje ou amanhã, por doze vezes, os sinos em todas as igrejas dos Açores como expressao da nossa gratidão e tristeza da morte de tão nobre membro da Igreja e «humilde servo da vinha do Senhor», bem como todos os diocesanos a rezarem pelo eterno descanso deste nosso irmão, cristão connosco e bispo de Roma para nós. Na Sé, será celebrada a missa exequial no dia 5 de janeiro de 2023, pelas 9.30 horas, hora dos Açores. No domingo, 8 de janeiro, a missa de 7º. Dia será às 11 horas, na Catedral. A missa de 30º. dia será celebrada pelo novo bispo diocesano em dia e local a anunciar oportunamente.

Guardemos na memória as últimas palavras de Bento XVI em Portugal: «Que o Evangelho seja acolhido na sua integridade e testemunhado com paixão por todos os discípulos de Cristo, a fim de que se revele como fermento de autêntica renovação de toda a sociedade. Desça sobre Portugal e todos os seus filhos e filhas a minha Bênção Apostólica, portadora de esperança, de paz e de coragem, que imploro de Deus pela intercessão de Nossa Senhora de Fátima, a quem manifestais tanta confiança e firme amor. Continuemos a caminhar na esperança! Adeus!»

Sé de Angra, 31 de dezembro de 2022

Hélder, Administrador Diocesano de Angra