+PRÓXIMO

1. Assumimos como lema para esta Quaresma do Ano Santo da Misericórdia o que nos propõe a Direcção da Caritas Portuguesa: «+ PRÓXIMO». Como assinala a Direcção da Caritas Portuguesa, «o Projecto + PROXIMO ganha, desta forma, relevo como instrumento de resposta à crise, ao desenvolver atividades de sensibilização, que envolvem todos os cristãos e as organizações da Igreja, envolvidas na pastoral social de proximidade. A abordagem projetada apoia-se fundamentalmente no esforço de gerar consensos: quanto à forma de organização e cooperação entre os organismos sócio-pastorais; na construção de materiais formativos; na formação de formadores diocesanos e de agentes paroquiais de ação social.

 

«Como nos exorta Bento W, “a atividade caritativa da Igreja mantenha todo o seu esplendor e não se dissolva na organização assistencial comum, tornando-se uma simples variante da mesma” (Encíclica Caritas in Veritate, 2009, no 31), apostando no princípio que a nossa ação social seja capaz de tornar possível a livre e responsável participação dos seus destinatários, não os reduzindo apenas a serem objecto da nossa caridade» (Caritas Portuguesa, Projeto «+PRÓXIMO», 2011-2014).

A insistência deste Projeto da Caritas é que a Ação Social da Igreja é feita de proximidade, como nos recomenda continuamente o Papa Francisco, na linha das orientações programáticas da Exortação Apostólica «A Alegria do Evangelho» (AE, 2014): .Com Jesus Cristo renasce sem cessar a alegria. Quero com esta Exortação dirigir-me aos fiéis cristãos, a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora, marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos:

«A pastoral em chave missionária exige o abandono deste

cómodo critério pastoral. “fez-se sempre assim”! Convido todos a serem ousados e criativos, nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respetivas comunidades.. (AE 30).

«Nem sempre conseguimos manifestar adequadamente a própria beleza do Evangelho, mas há um sinal que nunca pode faltar: a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora» (AE 195).

Nesse sentido, o Conselho Presbiteral de 2014 recomendou que a Diocese envidasse esforços no sentido de promover nos próximos anos: 0 «A caraterização da identidade açoriana, numa avaliação aprofundada da realidade açoriana e a sinalização das várias periferias para a nova saída missionária da Igreja».

2. Já houve uma 1 a abordagem nesse sentido, no Conselho Presbiteral de 2015, donde resultaram as Orientações Pastorais para 2015-2016, que vão ter um momento forte de avaliação na reunião conjunta do Conselho Presbiteral, dos Serviços Diocesanos e dos Movimentos Eclesiais, que se vai realizar de I a 4 de Março de 2016. Ora, “ter misericórdia” é a capacidade de “se compa-decer”, “padecer-com”: ir ao encontro do outro, como Jesus, que Se fez um de nós, para nos dar a vida com abundância. Ele disse claramente: o Filho do Homem veio ao mundo, não para ser servido, mas para servir e dar a vida. «O Seu caminho é também o nosso caminho» (Regra de Vida SCJ)Para sermos misericordiosos como o Pai, temos, pois, que ir ao encontro de Jesus e segui-Lo. «Filipe, quem Me vê, vê o Pai» – disse claramente Jesus. Ele é o rosto humano da misericórdia divina. Mostrou a misericórdia divina, indo ao encontro das pessoas e assumindo as suas mazelas, fazendo-Se próximo. Não temos outro caminho para sermos «+ PROXIMO» das pessoas, senão percorrendo os Seus caminhos,

 

Além disso, a circulação da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima é um momento especial de graça, que nos prepara para vivermos a Quaresma do Ano Santo da Misericórdia como momento propício de conversão e de mudança de vida. Para ser «misericordiosos como o Pai», é preciso olhar para Cristo, o Filho de Deus feito homem, que nos revela o Deus-Amor: amor que tem a sua máxima expressão, precisamente, na misericórdia.

3. E o que implica «a “saída missionária” da Igreja». Não podemos ficar nos templos à espera das pessoas. Temos de sair dos templos e ir ao encontro das pessoas, lá onde vivem e labutam. Temos de ser «+PROMMO» do nosso próximo. Temos de ser “missionários” presentes e atuantes na vida das pessoas lá onde é precisa mais misericórdia. Onde a situação é mais dificil, aí é que é precisa mais misericórdia.

«Misericórdia é a palavra que muda tudo: muda o mundo. Um pouco de misericórdia torna o mundo menos frio e mais justo.

 

Misericórdia é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade… E a lei fundamental que habita no coração de cada pessoa, quando olha com sinceridade o irmão que encontra no caminho da vida.

 

Misericórdia é o caminho que une Deus e o ser humano, porque abre o coração à esperança de ser amados para sempre, não obstante os limites do nosso pecado

 

Hoje é tempo de misericórdia: as situações de miséria e de conflito são para Deus ocasião de misericórdia… » (Papa Francisco).

Uma pastoral da misericórdia tem de se deixar interpelar e incomodar pela realidade, que

 

nos cerca e pelos problemas concretos das pessoas. Tem de estar

atenta e conhecer o que acontece à nossa volta. Tem de estar próxima das pessoas, evitando duas tentações:

– a “espiritualidade da miragem”, em que não se vê o que acontece à nossa volta, – ou “a fé por tabela”, que já tem a resposta feita, antes de conhecer a realidade.

Comentando o texto evangélico da adúltera, o Papa Francisco explica o que significa afirmar que Deus é misericordioso:

E que Jesus ultrapassa a Lei. .. Não diz que o adultério não é pecado. Mas não condena a adúltera, aplicando a Lei.

Eis o mistério da misericórdia: é evidente a atitude de Jesus, cheia de misericórdia, que defende a adúltera dos seus inimigos.

 

A misericórdia — explica o Papa vai para além da culpa… E como o céu.. Olhamos o céu e vemos tantas estrelas.. Mas, quando vem o Sol, desaparecem as estrelas.

 

E assim a misericórdia divina: uma grande luz de amor e de ternura. Não é por decreto que Deus perdoa, mas por amor, que tem a sua máxima expressão, precisamente, na misericórdia, que implica ir ao encontro das pessoas, pôr-se no seu lugar, aproximar-se, fazer-se próximo.

Não podemos, pois, viver esta Quaresma do Ano Santo da Misericórdia, se não nos fazemos «+ PROXIMO» do irmão que precisa de apoio e de misericórdia. Vai nesse sentido a Renúncia Quaresmal deste Ano Santo. Ao longo da Quaresma, vamos procurar renunciar a algo a que estamos habituados, para depormos no ofertório da Missa de Domingo de Ramos, com o intuito de ajudar os refugiados, que vêm para Portugal.

Assim, metade desse ofertório será entregue à Caritas Portuguesa e a outra metade à Caritas dos Açores, sendo as instituições, que em nome da Igreja em Portugal, dão apoio aos refugiados, independentemente da sua raça, religião e nação. São elucidativas as palavras do Cardeal W. Kasper, quando apresenta a misericórdia, como «a chave da vida cristã». «O ápice e o ponto culminante da misericórdia e do amor são referidos por Jesus no Sermão das Bem-Aventuranças: “amai os vossos inimigos e rezai pelos que vos perseguem”.

 

«E o motivo é este: o comportamento de Deus para com os pecadores, levado até ao extremo “para que sejais Filhos do Pai que está nos Céus” (explica Jesus). Na Pastoral da Misericórdia, é preciso verificar se os crentes estão assumindo aquele estilo “misericordioso”, que os torna “perfeitos como o Pai do Céu”» (Walter Kasper, La Misericórdia, Clave del Evangelio y de Ia Vida Cristiana, Sal Terrae, Santander, 2014 p. 201)

 

«Sede misericordiosos como o Pai do Céu«! «Filipe, quem Me vê, vê o Pai«!

O caminho está, pois, indicado. No-lo indica a Virgem Maria, que, como nas Bodas de Caná, nos repete continuamente: «Fazei tudo o que Cristo vos disser». «Porta da Misericórdia», Ela é o modelo de uma renovada cultura e espiritualidade da misericórdia. Mais: é também a intercessora misericordiosa da Igreja e dos cristãos. Por isso, na tradicional oração da Ave-Maria se acrescentou, no século XV. «rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte». Assim seja!

 

+ António, Bispo de Angra