«Familia: comunidade evangelizada em comunhão missionária»
Com a celebração litúrgica da festa da Sagrada Familia a sociedade no seu todo e a comunidade cristã em particular devem abrir-se ao desafio que a realidade da Familia de Nazaré, A Virgem Maria, S. José e Jesus de Nazaré lhes provoca.
Na verdade, a Sagrada Familia de Nazaré é o modelo de toda a família. Jesus na Incarnação assumiu uma família para demonstrar o valor de que esta se reveste e a missão que lhe incumbe na formação integral dos seus membros e na sua abertura para a sociedade.
De facto, «a aliança de amor e fidelidade, vivida pela Sagrada Família de Nazaré, ilumina o princípio que dá forma a cada família e a torna capaz de enfrentar melhor as vicissitudes da vida e da história» (AL,66). Aliás, «sobre este fundamento, cada família, mesmo na sua fragilidade, pode tornar-se uma luz na escuridão do mundo» (AL, 66).
Dado que em Nazaré se aprende uma lição de vida familiar, voltamo-nos para ela de modo que nos «ensine o que é a família, a sua comunhão de amor, a sua austera e simples beleza, o seu carácter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré como é preciosa e insubstituível a educação familiar e como é fundamental e incomparável a sua função no plano social» (AL, 66).
Daí a expressão e o apelo do Santo Padre ao referir que «o bem da família é decisivo para o futuro do mundo e da Igreja» (AL, 31). Deste modo, «ninguém pode pensar que o enfraquecimento da família como sociedade natural fundada no matrimónio seja algo que beneficia a sociedade» (AL, 52). Aliás, «antes pelo contrário, prejudica o amadurecimento das pessoas, o cultivo dos valores comunitários e o desenvolvimento ético das cidades e das aldeias» (AL, 52).
A família como primeira comunidade, Igreja Doméstica, onde se promove a evangelização, deve escutar o apelo a deixar «ressoar sempre de novo o primeiro anúncio, que é o “mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário” e “deve ocupar o centro da atividade evangelizadora”» (AL, 58). De facto, «é o anúncio principal, “aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, duma forma ou doutra” (AL, 58). Como refere o Papa Francisco, «porque “nada há de mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que esse anúncio” e “toda a formação cristã é, primariamente, o aprofundamento do querigma”.
Não é difícil, analisando a nossa cultura, descobrir-se a necessidade urgente de uma nova evangelização orientada para a família.
Não estamos tão só perante alguns factores que atacam o matrimónio e a família, na verdade verifica-se, em muitas faixas da nossa sociedade, um desconhecimento do seu valor, dos seus fundamentos e da sua missão.
Neste contexto, o ensinamento da Igreja «sobre o matrimónio e a família não pode deixar de se inspirar e transfigurar à luz deste anúncio de amor e ternura, se não quiser tornar-se mera defesa duma doutrina fria e sem vida» (AL, 59).
Respondendo a esta exigência, teremos de reconhecer que «com efeito, o próprio mistério da família cristã só se pode compreender plenamente à luz do amor infinito do Pai, que se manifestou em Cristo entregue até ao fim e vivo entre nós» (AL, 59).
Há um a relação intrínseca entre a comunidade familiar e a comunidade paroquial. Ambas são convidadas a acolher os dinamismos evangelizadores que fazem crescer e amadurecer os seus membros na fé, através do anúncio, da celebração dos mistérios da fé e da partilha fraterna.
O Papa Francisco define a Igreja como família de famílias, constantemente enriquecida pela vida de todas as igrejas domésticas; e realça-se que o amor vivido nas famílias é uma força permanente para a vida da Igreja. Daí que «com íntima alegria e profunda consolação, a Igreja olha para as famílias que permanecem fiéis aos ensinamentos do Evangelho, agradecendo-lhes pelo testemunho que dão e encorajando-as» (AL, 86).
Deste modo, e segundo o pensamento conciliar, «graças a elas, torna-se credível a beleza do matrimónio indissolúvel e fiel para sempre» (AL, 86).
De facto, «na família, “como numa igreja doméstica” (LG 11), amadurece a primeira experiência eclesial da comunhão entre as pessoas, na qual, por graça, se reflecte o mistério da Santíssima Trindade» (AL, 86). Mais ainda, «é aqui que se aprende a tenacidade e a alegria no trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e sempre renovado, e sobretudo o culto divino, pela oração e pelo oferecimento da própria vida» (AL, 86).
No contexto desta festa tão significativa para a Igreja e para a família, damos graças a Deus por tantas famílias que, mesmo no meio de provações e obstáculos continuam a responder com generosidade ao apelo de Deus e colocam todos os meios para caminhar nas sendas do amor conjugal e familiar que, apesar das dificuldades, é fonte de alegria. Igualmente devemos ter presentes todas as famílias que sofrem e nos interpelam convidando-nos ao acolhimento, acompanhamento, integração e à partilha.
Que em cada comunidade paroquial se intensifique o papel evangelizador da família e se empreenda, criativamente, uma verdadeira pastoral familiar que integre a preparação para o matrimónio, a sua digna celebração, o acompanhamento dos casais e o acolhimento e integração da fragilidade matrimonial.
Fica-nos um reconhecimento pelo bom trabalho que neste domínio se está a fazer na nossa diocese e o apelo a que se encontrem sempre os melhores meios para anunciar a Boa Nova da Familia no nosso tempo.
Imploramos as bênçãos da Sagrada Familia de Nazaré para todas as famílias da nossa diocese sobretudo as que mais padecem.
+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores