O que era desde o principio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram acerca do Verbo da Vida – porque a Vida manifestou-se, nós vimo-la, damos testemunho dela e vos anunciamos esta Vida Eterna» (1Jo. 1, 1-2).
Estamos, como comunidade diocesana, a iniciar um novo ano pastoral. É já pelo segundo ano consecutivo que travamos a batalha da pandemia que obriga a uma redobrada esperança, que nos interpela na criatividade pastoral e, sobretudo, nos desafia a procurarmos as fontes da verdadeira Sabedoria para respondermos aos novos tempos que já vivemos e que se avizinham.
Esta é uma tarefa de todos os que responsavelmente sentem que a fé cristã deve ser alicerçada e alimentada na Eucaristia, se deve exprimir em comunhão fraterna e na partilha de dons através da participação consciente e activa na comunidade cristã e se reveste de uma dinamismo missionário que impele para o testemunho lúcido, fiel e coerente da comunhão com Jesus Cristo.
É neste contexto concreto que cada cristão e cada comunidade cristã são chamados a ser evangelizadores, isto é, a viver e a testemunhar a Jesus Cristo como a Boa Noticia para os homens e mulheres do nosso tempo.
Vamos necessitar de dedicar esforço e imaginação para reerguer as nossas comunidades cristãs, para colocar a funcionar os órgãos de participação, comunhão e corresponsabilidade, para valorizarmos as diversas actividades pastorais que se integram na vida paroquial e, em suma, para provocar em todos o sentido da responsabilidade e não darem continuidade ao medo que se instalou na sociedade.
Neste novo ano, abrem-se perante nós, comunidade diocesana, desafios pastorais impares a exigir a atenção e o compromisso de todos nós.
Desde logo, somos chamados a continuar a caminhada sinodal que nos convida a um novo rosto das nossas comunidades, nas quais todos os cristãos são chamados a participar activamente na sua vida e na sua missão. Na sequência dos anos anteriores, são apresentados como temas de reflexão e de renovação eclesial, a edificação de uma Igreja Missionária e a Igreja pobre com os pobres.
Completamos, deste modo, o conjunto de temas que nos interpelam a ser Igreja autenticamente evangelizadora.
Acompanha-nos, ao longo do ano, a preparação do Sinodo dos Bispos/2022 que se realizará em Roma, em Outubro do próximo ano e que versa «Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão». Não só somos chamados a dar as nossas sugestões como reconhecemos a sintonia da nossa caminhada sinodal com o pensamento do Santo Padre.
Na sequência do Concilio Vaticano II que nos convida a aprofundar a riqueza de ser Igreja, Povo de Deus, somos, nestes tempos, desafiados a edificar as nossas comunidades cristãs de modo a que cada um dos baptizados se sinta em comunhão com os seus irmãos, devidamente alicerçado na vivência eucarística e na sua integração comunitária e manifeste a alegria na participação activa e consciente na missão evangelizadora da Igreja.
Os jovens, que têm sido constantemente interpelados para a sua inserção na paróquia, nos movimentos e instituições, na sua descoberta vocacional e na missão que lhes toca na evangelização do mundo de hoje, sobretudo no contexto de convívio com outros jovens, são convidados de modo muito singular, para neste ano prepararem as Jornadas Mundiais da Juventude, Lisboa/2023, e com estas actividades reconhecerem o seu papel insubstituível na renovação das comunidades cristãs.
Que ninguém se coloque de fora deste manancial de vida e de graça que Jesus Cristo quer oferecer à nossa Igreja Diocesana, tocando todas as paróquias, movimentos, instituições, desde as crianças, aos mais idosos, passando pelas famílias, jovens, os que se afadigam no mundo do trabalho ou que se dedicam à causa pública.
Permitam-me que interpele em primeiro lugar os sacerdotes a quem se exige um renovado esforço de liderança, de mobilização, de consciência profunda do que o Senhor quer para a Sua Igreja e afincadamente colocarem-se no árduo caminho da comunhão, da participação de todos os fiéis, na formação cristã e nas propostas concretas de evangelização.
Estamos a trilhar o caminho da edificação de comunidades inteiramente ministeriais. Isto é, atentas aos Sinais dos Tempos e à acção do Espirito, reconhecerem os serviços pastorais de que necessitam para a evangelização. Daí, o desafio lançado à promoção do diaconado permanente e à instituição de outros ministérios, nomeadamente do catequista, segundo pensamento do Papa Francisco.
Desafio os movimentos apostólicos a que vivam na comunhão eclesial, a que se renovem à luz do Concilio Vaticano II e que sintonizem a sua acção com a tarefa evangelizadora da Igreja.
Lanço o convite à famílias cristãs para que sejam verdadeiramente testemunhas do autentico amor familiar, que se edifiquem como «Igrejas domésticas», procurem a inter-relação com a paróquia e sejam educadoras vocacionais para as novas gerações.
Dou graças a Deus pelos inumeráveis leigos que se dedicam ao apostolado nas suas paróquias e mesmo no contexto dos serviços diocesanos. A vitalidade e a renovação das comunidades passará muito pela formação cristã dos leigos e pela sua participação activa na missão evangelizadora no contexto do mundo em que vivem. As diversas áreas da presença dos leigos na cultura, na sociedade, no trabalho ou nos locais onde se decide a vida das pessoas, necessitam da presença evangelizadora dos leigos.
Aos jovens, dirijo mais uma vez o meu convite para a sua participação activa na renovação das comunidades cristãs, mas sobretudo que se coloquem perante o olhar terno e amoroso de Jesus Cristo e se deixem cativar por Ele de modo a responder-Lhe sobre a vocação e a missão que Ele destina a cada um.
Iremos iniciar o nosso ano pastoral no próximo dia 17 de Outubro. Haverá uma solene celebração na Sé de Angra e pede-se que cada paróquia faça eco desta mesma celebração nas Eucaristias deste domingo. Entre outras actividades, deve rezar-se pelo bom andamento deste ano pastoral e deve informar-se dos temas e das acções que irão constar da caminhada diocesana ao longo do ano. Será uma oportunidade para dar visibilidade comunitária ao Conselho Pastoral Paroquial e aos diversos responsáveis pelas sectores pastorais da paróquia.
Coloco este ano pastoral que estamos a iniciar sob a protecção de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores e de S. José, neste ano a ele dedicado, para que nos abençoem e derramem as suas graças sobre todos nós, sobretudo os mais necessitados, pobres e excluídos.
Angra do Heroismo, 7 de Setembro de 2021
+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores