«Louvado seja o Senhor, dia após dia, Ele toma cuidado de nós, o Deus da nossa salvação, o nosso Deus é um Deus que salva!» (Sl.68, 20-21).

No próximo dia 6 de Setembro a diocese de Angra recebe a graça da ordenação de seis novos presbíteros. Motivo de acção de graças ao Senhor que segundo a Sua palavra não deixa de escutar a nossa prece implorando ao Senhor da Messe que envie trabalhadores para a sua Igreja (Cfr. Lc. 10,2).

É um tempo de graça dado por Deus para que cada baptizado tome consciência mais profunda da sua própria vocação e missão. Na verdade, cada cristão, discípulo de Jesus de Nazaré, é chamado a descobrir a sua pertença a uma comunidade concreta, na qual vive, partilha e se compromete segundo o chamamento que lhe é dirigido por Cristo.

A escuta atenta da Palavra de Deus, a vivência consciente da eucaristia e demais sacramentos, a oração que abre espaço para o chamamento e para a resposta pessoal, o discernimento dos sinais que Deus coloca no caminho de cada um e o compromisso comunitário, são meios para reconhecer o convite que é dirigido por Jesus Cristo a cada um dos seus discipulos, isto é, a cada um de nós, e para proporcionar a resposta decidida à sua interpelação amorosa.

Urge na nossa diocese promover uma cultura vocacional. Isto significa que em todos os baptizados, em todas as famílias e em todas as comunidades cristãs está presente esta exigência de despertar a vocação que cada um dos baptizados descobrirá na intimidade com Jesus de Nazaré. Para que tal aconteça, exige-se de todos os que têm responsabilidades educativas, nomeadamente na educação cristã, tenham consciência de tudo o que fazem, por palavras e testemunho, deve estar orientado para o despertar vocacional, mas também, em todos os espaços educativos se deve cuidar do clima de interioridade, de silêncio e de contemplação que permita o encontro de cada um com a pessoa de Jesus Cristo vivo que interpela pelo Seu amor e ternura.

O Papa Francisco, na mensagem deste ano para o dia de oração pelas vocações, propõe quatro palavras que são igualmente quatro desafios:  tribulação, gratidão, coragem e louvor.

Partindo da experiência de Pedro que escuta o chamamento de Jesus de Nazaré no meio da tribulação das águas, o Papa ajuda a reflectir com verdade as circunstâncias do mundo, da sociedade e pessoais, nas quais cada um vive e nas quais somos chamados a escutar a voz de Jesus Cristo que nos convida a segui-Lo.

Uma vez seguros na mão de Jesus, não podemos ter outra atitude senão de gratidão, pelo amor, pela ternura e misericórdia que sentimos na intimidade com Ele. Na verdade, sentir a segurança, saber a direcção certa para a nossa vida, não é fruto das nossas forças, mas «trata-se, antes de mais nada, da resposta a uma chamada que nos chega do Alto».

Efectivamente, «é o Senhor que nos indica a margem para onde ir e, ainda antes disso, dá-nos a coragem de subir para o barco; e Ele, ao mesmo tempo que nos chama, faz-Se também nosso timoneiro para nos acompanhar, mostrar a direção, impedir de encalhar nas rochas da indecisão e tornar-nos capazes até de caminhar sobre as águas tumultuosas».

Certamente reconhecemos que se exige uma grande coragem para enfrentar as dificuldades e para confiar na palavra d’Aquele que no meio da turbulência nos chama.

Os fantasmas que cada um gera em si ou que lhe são provocados pela sociedade impedem de caminhar, de avançar na realização dos sonhos que cada pessoa tem dentro de si. De facto, «pouco a pouco avolumam-se em nós todas aquelas considerações, justificações e cálculos que nos fazem perder o ímpeto, confundem-nos e deixam-nos paralisados na margem de embarque: julgamos ter sido um erro, não estar à altura, ter simplesmente visto um fantasma que se deve afugentar».

É preciso decidir-se na certeza de que o Senhor «sabe que uma opção fundamental de vida – como casar-se ou consagrar-se de forma especial ao seu serviço – exige coragem». Aliás, «Ele conhece os interrogativos, as dúvidas e as dificuldades que agitam o barco do nosso coração e, por isso, nos tranquiliza: “Não tenhas medo! Eu estou contigo”».

Deste percurso vivo e convivido em comunidade perante a pessoa de Jesus Cristo emerge o louvor como única resposta á acção amorosa de Deus que, apesar das limitações não deixa de nos chamar e enviar atraídos pelo Seu amor por toda a humanidade.

Não deixemos, comunidade diocesana, comunidades paroquiais e famílias, de aproveitar este acontecimento de graça para aprofundarmos o Evangelho da vocação. Pais, catequistas, animadores e responsáveis de grupos e movimentos, e sobretudo os sacerdotes, todos no mesmo sentir, edifiquemos uma comunidade diocesana em dinamismo vocacional.

Integrada na acção de graças ao Senhor pela dádiva de seis novos presbíteros para a nossa diocese, apresento a minha palavra de reconhecimento pela generosidade e entrega total de cada um dos jovens que vão ser ordenados, o apreço às suas famílias e comunidades cristãs pelo acompanhamento vocacional e de gratidão ao Seminário Maior pela formação integral que lhes ministrou ao longo do curso teológico e que lhes continuará a prestar.

Numa Igreja diocesana que deseja renovar-se em caminhada sinodal pela participação activa e consciente de todos os baptizados, alegremo-nos por esta bênção de Deus e esforcemo-nos por um compromisso mais profundo na missão evangelizadora do mundo de hoje.

Que Nossa senhora, Mãe e Rainha dos Açores, Mãe dos Sacerdotes abençoe estes candidatos ao presbiterado, as suas famílias, as suas paróquias, o nosso Seminário, a nossa diocese, os jovens e as crianças e que nos fortaleça com santas vocações.

 

Angra do Heroismo, 10 de Agosto de 2020

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores